Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, mostrou a Dilma Rousseff o que o Brasil inteiro já sabia. Que a presença de Carlos Lupi no governo federal é absolutamente incompatível com a noção de ética pública. Mas essa presença agride, ofende e vilipendia ainda mais a estética pública.

O modo Lupi de ser, de agir, de falar e de se comportar não combina com a bela cidade de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. E a leitura atenta do parecer da comissão de ética revela que o fator estético também pesou na recomendação pela demissão. O documento aponta os vícios, a fanfarronice e a total falta de compostura do ministro do Trabalho – o “pesadão”, que só sai “abatido à bala” do governo.

Lupi é uma figura abjeta – e nem tanto pelo aspecto físico, que também não é nada agradável. Nos bons tempos do PDT, quando o partido era dirigido por Leonel Brizola, resistir à bala significava defender a democracia, como na Campanha da Legalidade. Hoje, nada mais é do que bravatear uma liderança que não se tem. Mas Lupi é aquele que trafega da falsa coragem à mais completa subserviência num piscar de olhos.

É um ministro que baba e beija a mão da presidenta para, em seguida, disparar “Dilma, eu te amo”.  Ridículo, patético, desnecessário.
Fora isso, há também a incompatibilidade com a função pública. Durante anos, Lupi foi funcionário fantasma da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, recebendo R$ 9,5 mil mensais. Seu ministério tem influência direta sobre grandes esquemas econômicos, como a venda de cartas sindicais e a liberação de recursos do FI-FGTS, um fundo com recursos dos trabalhadores, direcionado aos empresários próximos ao poder.

Diante de tudo isso, o que parece ser realmente incompreensível é a demora do governo em sacramentar a demissão. Serão os votos do PDT no Congresso Nacional? Alguma ameaça velada? Ou, na melhor das hipóteses, a conveniência política de esperar a reforma ministerial de janeiro para promover, de uma só vez, todas as mudanças.

Comenta-se que a presidente Dilma poderia fazer um escambo ministerial na reforma de janeiro.
A Agricultura, que pertence ao PMDB, mas é ocupada pelo ministro Mendes Ribeiro, em luta pela vida, passaria para o PDT. E os peemedebistas indicariam um nome para o Trabalho. Assim, Dilma poderia atrair para o governo o pedetista Osmar Dias, reconhecido como autoridade na área agrícola. Talvez seja esse o cálculo político. Mas o fato é que a postura antiestética de Lupi fez com que o relógio andasse mais rápido. E a única saída é demiti-lo já.