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PASSAGENS O trem é metáfora de ação para a dupla Gisela Motta e Leandro Lima

Desde que o cinema deixou de ser exibido exclusivamente em auditórios e ganhou espaço em áreas de circulação e espaços expositivos, seu público deixou de ser formado apenas por espectadores passivos. Do visitante das videoinstalações e das cineinstalações espera-se uma atitude menos contemplativa e mais participativa e é para esse público que a exposição "Espectador em Trânsito" se dirige. A mostra reúne 11 trabalhos de sete artistas de vários Estados brasileiros, que nos últimos anos têm se envolvido em pesquisas sobre a interatividade do público com a imagem em movimento.

Pesquisador das novas tecnologias da imagem e das narrativas e espacialidades do cinema digital, o carioca André Parente apresenta as videoinstalações "Entre-Margens" e "Estereoscopia", em que o espectador é integrado à obra, queira ou não. No vídeo "Entre", do paranaense Luciano Mariussi, essa participação torna-se uma provocação. Projetadas sobre as quatro paredes de uma sala escura, quatro pessoas em tamanho natural fazem uso de diversos recursos verbais para expulsar o visitante da videoinstalação. Utilizando argumentos agressivos, os quatro personagens vociferam contra o espectador, fazendo-o se sentir um estranho no mundo da arte contemporânea. Este é mais um dos trabalhos em que Mariussi especula sobre o hermetismo da arte contemporânea em relação ao grande público.

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SETE TEMPOS Cada vídeo de Miro Soares corresponde a um trajeto vivenciado

Para incitar o público não apenas a se mexer, mas a pensar rápido, o curador Martin Grossmann selecionou também alguns trabalhos que têm viagens e meios de transporte como tema. O capixaba Lando apresenta o vídeo "RER D", que mostra paisagens captadas de dentro de um trem na França, editadas de forma a dar ao espectador a impressão de que é ele quem está dentro de um vagão. Em "Passei-o", da dupla paulista Gisela Motta e Leandro Lima, o protagonista também é um trem. Mas sua passagem rápida faz dele um objeto quase imperceptível, exigindo de quem assiste atenção redobrada. Exibido em sete monitores, a videoinstalação "Imprecise Itineraries", do capixaba Miro Soares, coloca o público em movimento diante dos sete itinerários que o artista perseguiu em sete dias transcorridos em Bergen, na Noruega.

Roteiros

Anna Bella Geiger, cartógrafa

Anna Bella Geiger – Obras 1972-2009/ Valu Oria Galeria de Arte, SP/ até 9/9

Anna Bella Geiger é uma artista precursora. Não foi apenas pioneira da videoarte no Brasil, mas adiantou-se a uma forte tendência contemporânea ao traduzir para o campo da arte questões de natureza geopolítica. Muito antes que a globalização alterasse nossas noções de centro e periferia, local e global, a artista carioca já fazia suas releituras do mapa-múndi com trabalhos em técnica mista de fotografia, gravura, colagem, objeto, pintura e instalação. Esta é a última semana para conferir uma seleção de 30 de suas cartografias artísticas. Com foco em mapas e atlas, a exposição na Valu Oria Galeria de Arte reúne um conjunto coeso de obras que colocam o Brasil e a América Latina no centro do mundo, como em "Brazil in My Head", de 2008 (foto). Em exibição, desde as serigrafias da série "Local da Ação" até fotosserigrafias em que o foco da atenção recai sobre a geografia do Amazonas e sobre etnografias indígenas.

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Imagens: modo de usar

Imagens em Migraç ão/ Museu de Arte de São Paulo (Masp), SP/ até 25/10

"Concentre-se nas imagens. Tente senti-las tactilmente, em todos os seus detalhes." Essas são as "instruções de uso" que Vera Chaves Barcellos sugere para a apreciação de algumas de suas fotografias. Perspicaz observadora do modo como nos relacionamos com as imagens que nos cercam cotidianamente, a artista gaúcha ganha no Masp uma mostra panorâmica à altura de sua trajetória de cinco décadas. Em um percurso de 96 obras, Vera nos confronta com vídeos, fotografias e obras gráficas para serem sentidas, digeridas e pensadas. Há momentos imperdíveis, que demandam do espectador tempo e atenção diante da imagem. Entre eles, "Per(so)nas", em que o público é induzido a compor um retrato psicossocial de pessoas que tiveram apenas suas pernas retratadas; "Atenção", que embaralha a relação texto-legenda na imprensa; e "Keep Smiling", que parodia a reação forçada diante dos cartazes "Sorria, você está sendo filmado".

ESPECTADOR EM TRÂNSITO – VIDEOINSTALAÇÕES/ Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes), Vitória / até 3/10