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"Saímos da fase de incubadora para a de parque tecnológico
e agora pretendemos crescer bastante no ano que vem"

Ronaldo Nóbrega, engenheiro e sócio-fundador de empresa nascida no campus
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele segura as membranas
do sistema de filtragem de água desenvolvido no parque tecnológico

Uma espécie de paraíso científico, no qual a parceria entre pesquisadores e empresários resulta em produtos e serviços inovadores, rapidamente colocados à disposição da sociedade. Esse é o conceito de parque tecnológico, criado na década de 50 nos Estados Unidos, que somente agora chega à maturidade no Brasil. Os resultados são tão significativos que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, prometeu tratar esses empreendimentos como prioridade. Motivos para isso não faltam. Pelos dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o País tem hoje 25 parques tecnológicos em operação, 17 em fase de implementação e 32 ainda no papel. O principal deles está instalado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O projeto, nascido em 2003, abriga no campus setores de pesquisa de gigantes como Petrobras, Siemens e Motorola e receberá investimento da ordem de R$ 500 milhões nos próximos três anos. “A essência de um parque assim é transformar conhecimento em riqueza e benefício para a sociedade”, explica o engenheiro Maurício Guedes, responsável pelo projeto da UFRJ e presidente da Associação Internacional dos Parques Tecnológicos. Ele acha positivo que o ministério tenha reconhecido a importância desses projetos, mas pede mais recursos para rivalizar com outros países. “É um programa grandioso, deveria ter a participação do BNDES”, aponta.

A ideia de reunir pesquisadores universitários e empresas em busca de inovações surgiu na Califórnia, quando a Universidade de Stanford implantou um projeto com essas características. No final dos anos 50, começaram a se instalar ali empresas que, com o passar dos anos ficaram mundialmente famosas: Intel, Microsoft, Apple e várias outras. O próprio lugar, o Vale do Silício, ganhou fama. O Brasil adotou o conceito há cerca de três décadas, mas nunca os parques tecnológicos estiveram tão em alta por aqui. Das pesquisas realizadas nesses laboratórios sairão soluções para questões fundamentais no desenvolvimento do País ao longo dos próximos anos, como a exploração do pré-sal ou novos aplicativos de informática. Essa é, por exemplo, a especialidade do Porto Digital, empreendimento iniciado há 11 anos, com investimento do governo pernambucano em torno de R$ 33 milhões. Atualmente, os negócios gerados ali alcançam a cifra de R$ 700 milhões por ano, ou 3,9% do PIB do Estado. “Até 2020, podemos chegar a 10% do PIB e duplicar o número de trabalhadores, passando para 20 mil funcionários”, avalia Silvio Meira, fundador do Porto Digital e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados.

Mesmo fora das capitais, é possível encontrar iniciativas de destaque. É assim o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), que desde 2006 vem recebendo recursos que nos próximos anos chegarão a US$ 250 milhões, e o Tecnosinos, instalado na cidade gaúcha de São Leopoldo, escolhido como o melhor do Brasil no ano passado. Há várias iniciativas de implantação ou expansão em curso. O superintendente de competitividade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio, Sérgio Teixeira, ressalta que a diversificação está levando à criação de novos complexos como o de Xerém, em Duque de Caxias – no lugar, a PUC está construindo um centro com laboratórios para a indústria automobilística. O InMetro pretende construir um parque voltado para a metrologia e energia renovável. Outro, voltado para a tecnologia da informação, ficará em Petrópolis. “Os parques criam a possibilidade de os empreendedores desenvolverem seus projetos”, diz Teixeira. Isso vale tanto para os mega quanto para os micro empreendimentos. Pequenas empreitadas, como a Pam Membranas, nascida na UFRJ, encontram ambiente propício para se desenvolver, mesmo ao lado de gigantes como Nokia e Motorola. Nascida depois que o engenheiro Ronaldo Nóbrega e seus sócios desenvolveram uma técnica inovadora para filtrar água em grande escala, a empresa fatura atualmente R$ 2,5 milhões anuais. “Saímos da fase de incubadora para a de parque tecnológico e agora pretendemos crescer bastante em 2012”, prevê Nóbrega.

Um dos maiores centros produtores de conhecimento do País é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com uma diferença importante: não concentra suas operações em um só espaço. Pulverizada em centros de pesquisa espalhados por todo o Brasil, ela teve importante papel no desenvolvimento da agropecuária nas últimas décadas. Agora, se prepara para o futuro. “Estamos negociando um programa chamado Embrapa Verde, justamente para trabalharmos a sustentabilidade sem abrir mão da renda”, diz o presidente da empresa governamental, Pedro Arraes. 

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