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RECEITA
O psiquiatra Leonardo Gama Filho recomenda que seus pacientes tomem banho de sol

Autoestima abalada pode ser sinônimo de saúde em desequilíbrio. A sensação de inferioridade, a tristeza e a visão negativa do mundo e de si próprio que acompanham os sem-confiança têm reflexos físicos e psicológicos. Nos casos mais graves, desencadeiam distúrbios. Os mecanismos da autoestima ainda são praticamente desconhecidos dos cientistas. Mas eles já têm certeza de que é um assunto com diversas questões a serem estudadas. Sabe-se, por exemplo, que otimistas em geral apresentam maior segurança diante dos desafios – característica de quem tem uma boa visão pessoal. E, segundo um levantamento da Universidade de Pittsburgh, mulheres otimistas correm menos riscos de ter doenças cardíacas e vivem mais. É a mesma conclusão de uma pesquisa do Instituto Delfland de Saúde Mental, da Holanda, indicando que homens otimistas apresentam risco cardíaco reduzido. Essas pessoas cuidam mais da saúde, fazem exercícios, têm uma alimentação balanceada e usam pouco álcool e drogas. Isso mostra que gostar de si mesmo está ligado à escolha de hábitos saudáveis.

"Mas os circuitos cerebrais que envolvem a manifestação da autoestima são difíceis de serem avaliados", diz a neurologista Maria Eduarda Nobre, membro da Academia Brasileira de Neurologia. Exames de imagem, como as tomografias, foram um grande avanço para as pesquisas relacionadas ao cérebro, inclusive as que buscam desvendar o amor-próprio. Testes mostraram que pessoas com alterações no sistema límbico (responsável pelas emoções) ou que sofreram lesões no local apresentam autoestima mais baixa (leia quadro). Depressão e transtornos de ansiedade são doenças desencadeadas por essa falta de confiança. Nesses casos, medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos são recomendados.

BEM-ESTAR
A ciência comprovou: os otimistas mantêm a autoestima em dia e são mais seguros

Parte considerável da população, no entanto, não precisa de remédios. Cursos, terapias e tratamentos alternativos podem resolver a insegurança constante. A Programação Neurolinguística (PNL), técnica baseada na ideia de que a verbalização condiciona o cérebro, tem sido uma das saídas mais procuradas. A Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística oferece há 25 anos um curso voltado para o aperfeiçoamento da autoestima. "A cada ano cresce 20% o número de alunos", afirma o psicólogo Alexandre Bortoletto. Por meio de exercícios, há uma mudança na linguagem repleta de afirmações negativas que a pessoa faz para si mesma. Linhas tradicionais também conseguem resultados significativos. Na terapia cognitivacomportamental, é possível modificar padrões de comportamento reeducando os pensamentos de forma direcionada por psicólogos. O que incomoda o indivíduo é relembrado e discutido, até ele conseguir dar um novo sentido aos fatos. Já a terapia em grupo reúne pessoas que enfrentam problemas semelhantes para compartilhar suas histórias.

Quem puder se dedicar a mais de um caminho para readquirir o bemestar, acelera o processo de melhora.

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CAMINHOS
Os médicos e psicólogos têm apostado em tratamentos multidisciplinares

"O resgate da confiança com um tratamento multidisciplinar é muito eficiente", diz o psiquiatra Leonardo Gama Filho, chefe do serviço de psiquiatria do Hospital Municipal Lourenço Jorge, no Rio de Janeiro. "A medicina não pode mais se distanciar de uma visão holística do ser humano." Gama Filho prescreve os métodos ortodoxos aos pacientes acompanhados de recomendações como uma hora de banho de sol por dia e momentos de lazer. As terapias corporais também ajudam. Dores pelo corpo e posturas que indiquem insegurança (como ombros retraídos) podem ser reflexo de baixa autoestima.

Técnicas como a bioenergética (exercícios corporais vinculados aos de respiração) e a reeducação postural global (RPG) auxiliam. Massagens, aromaterapia, florais e ioga são algumas opções. Estudos comprovam que esses métodos baixam a quantidade de cortisol – o hormônio do stress – no organismo.

Alimentação balanceada e atividade física mantêm o corpo resistente e o cérebro ágil. O humor melhora graças à liberação de neurotransmissores ligados ao bem-estar durante os exercícios. Em contrapartida, uma dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas pode deprimir. A espiritualidade entra como um coadjuvante que pode fazer toda a diferença. "Ter fé, independentemente da religião, e relacionamentos positivos ajudam a conservar a autoestima", afirma o psicólogo Julio Peres, doutor em neurociências e comportamento pela Universidade de São Paulo (USP). Essa série de alternativas prova que a conquista da autoestima é possível.

Mas é necessário dedicação.