As leis americanas determinam que todo acusado de um crime tem o direito de ser julgado por 12 “de seus iguais”, ou seja, cidadãos como o réu. Ao observador casual, é difícil imaginar a arregimentação de uma dúzia (mais oito alternativos) de criaturas semelhantes a Michael Jackson. O cantor foi indiciado na Corte Federal em Santa Maria, na Califórnia, em quatro delitos a um menor, um por servir substância tóxica (álcool), um assédio, além de aprisionamento e extorsão. A vítima seria um menino, que na época da ocorrência tinha 13 anos e agora está com 15, que fora pedir ajuda do astro milionário para fazer tratamento oncológico.

Esta não é a primeira vez que se ameaça fazer uma seleção de iguais de Michael Jackson. Em 1993, ele entrou em acordo milionário com a família de outro menor para se livrar de acusação semelhante. O caso não chegou aos tribunais, e desde então o cantor continuou servindo de anfitrião para centenas de crianças convidadas para passar temporadas em sua mansão Neverland (batizada em homenagem à terra do personagem Peter Pan), em Los Olivos, na Califórnia. A suposta vítima atual aparece num documentário feito pela tevê britânica BBC, em fevereiro de 2003, caminhando de mãos dadas com o ídolo. A apresentação da reportagem foi feita nos Estados Unidos pela jornalista Barbara Walters, que perguntou a Jackson se ele não achava impróprio para um adulto dormir na mesma cama com uma criança. “Não vejo nada de errado. Não acontece nada. E eu sou uma criança no coração”, disse o ex-garoto prodígio, hoje com 46 anos.

Desta vez, porém, o escritório da Promotoria Distrital não está para brincadeiras. No início do caso, o promotor Sneddon alegou ter acusações de sete vítimas de sedução. Mas até agora apresentou apenas uma delas. “A promotoria passou
desde 1993 recolhendo supostas vítimas de Michael. Na verdade, eles convocaram todas as pessoas em busca de dinheiro fácil para testemunhar contra meu
cliente”, disse a ISTOÉ o advogado de defesa Robert Sanger. Lembrou também que dos sete acusadores apenas um será ouvido em corte. Mas este tem poder de fogo do qual nem Peter Pan conseguiria escapar ileso. Por exemplo: numa varredura na mansão Neverland, a polícia encontrou, há duas semanas, revistas pornográficas – hétero e homossexuais – que contêm as impressões digitais do dono da casa e do suposto molestado.

A mídia tem tratado as aparições de Jackson na Corte de Santa Maria como performances de palco. Não é sem propósito: no seu primeiro dia de audiência – quando o acusado se declarou inocente –, o cantor subiu no teto de um jipão e deu um show de dança. Pesam também na equação os trajes à la “mestre-de-cerimônia de picadeiro”, escolhidos a dedo pelo astro para os espetáculos da corte. A mídia americana estranhou, porém, que Jackson tenha escolhido um terno branco para sua última ida ao tribunal. Compreende-se: o país é ignorante dos rituais dos sincretismos afro-católicos. Não se percebeu que o homem incorporou um orixá rápido. A determinação do vestuário foi feita pela cozinheira de Michael. Ela é uma brasileira, de Minas Gerais, e considerada mestre-cuca de mão cheia nas artes culinárias vegetarianas, que é a dieta do patrão. É também confidente dos santos da umbanda e do candomblé.

Essa funcionária misteriosa – cujo nome é mantido em sigilo por quem a conhece e teme seus poderes místicos – foi roubada da cozinha do compositor, cantor, pianista e band leader brasileiro Sérgio Mendes. Ele convidou, anos atrás, Michael para um caprichado rega-bofe. O comensal ficou tão impressionado com o tutu, com a couve picadinha, a quiabada e outros quitutes da gastronomia brasuca que levou a cozinheira para casa. Ela vem enchendo o estômago e fechando o corpo de Jackson desde então. Eis o motivo do terninho branco e o porquê de toda a família Jackson vestir-se na mesma cor ao escoltar o irmão ao tribunal.