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PODER
De origem humilde, Cigano ganhou US$ 220 mil na
última luta que venceu e desfilou em carro aberto na Bahia

Um minuto e quatro segundos. Foi esse o tempo que Júnior dos Santos Almeida, 27 anos, conhecido como Cigano, levou para se tornar uma das personalidades mais comentadas e admiradas do Brasil. A habilidade e a velocidade com que ele derrubou o americano Cain Velásquez, na luta do domingo 13, nos Estados Unidos, foram acompanhadas por 22 milhões de espectadores brasileiros, em transmissão realizada pela principal rede de televisão do País. Somando os 5,7 milhões de americanos também sintonizados na disputa, a audiência foi a maior da história dos combates de MMA – sigla em inglês para o termo artes marciais mistas, estilo de luta que une fundamentos do boxe, jiu-jítsu, caratê, judô e muay thai, entre outros. Desde que foi criado, em 1993, o Ultimate Fighting Championship (UFC), principal competição de MMA do mundo, os representantes nacionais sempre marcaram presença. A partir da vitória de Anderson Silva em 2006, porém, o esporte viu sua popularidade crescer exponencialmente, elevando seus lutadores ao status de verdadeiras celebridades.

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FAMOSO
O popular Minotauro tem marca de roupas e tira fotos e dá autógrafos aonde vai

Atual campeão mundial dos pesos-pesados, Cigano está sentindo o gostinho de ser o mais novo ídolo do MMA no País. Natural da pequena cidade de Caçador (SC), ele foi recebido por milhares de fãs ao desembarcar, após a luta, no aeroporto de Salvador (BA), cidade que escolheu para viver há nove anos. Ao som de “Eye of the tiger”, música tema do personagem Rocky Balboa, o lutador desfilou em carro aberto pela capital baiana e conheceu o governador Jaques Wagner. “Naquele momento caiu a ficha de que minha vida tinha mudado”, conta Cigano, que já trabalhou na colheita de maçãs em sua cidade natal, foi servente de pedreiro, vendeu picolés na praia e estava atuando como garçom quando decidiu se inscrever numa academia. “Comecei a treinar jiu-jítsu para emagrecer” diz, entre risos. “Um ano e meio depois tive minha primeira disputa.” Do salário de R$ 300 que ganhava quando deixou Caçador, o jovem conquistou US$ 220 mil apenas no combate mais recente, sem contar os patrocínios que recebe. “Graças a Deus hoje sou feliz por ter aquilo que jamais sonhei que conseguiria”, diz.

O prestígio alcançado agora pelos lutadores de MMA supera o reconhecimento de campeões nacionais do boxe, como Acelino “Popó” Freitas, e equipara-se à adoração despertada pelos jogadores de futebol. “Meninos carentes que antes queriam ser o Ronaldo agora imitam o Cigano, o Anderson Silva”, diz Alessandro Rener, presidente da Federação Paulista de MMA e fundador do Predador Fight, um dos maiores campeonatos nacionais da categoria. “A história de superação desses atletas de origem humilde serve de inspiração para muitos moleques do Brasil.” Caso do lutador José Aldo, 25 anos. A trajetória do jovem que saiu de Manaus para correr atrás do sonho de ser campeão ganhará, em 2012, as telas do cinema, na pele do ator Malvino Salvador. Filho de um pedreiro e de uma dona de casa, Aldo mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de treinar jiu-jítsu. Ganhando apenas R$ 200 de patrocínio, treinava o dia inteiro e morava na academia. Fazia somente duas refeições por dia, pois era o que o dinheiro dava. Assim permaneceu durante um ano, até conhecer o MMA. “Hoje em dia, comparado com quando eu comecei, brinco que sou playboy”, conta o lutador. “Já conquistei muito: estou comprando meu apartamento, tenho minha moto, comprei um carro para a minha mulher. Temos uma vida muito boa.”

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NO CINEMA
A história da vida de José Aldo será contada em filme. Malvino Salvador interpretará o lutador

 

 

Um dos lutadores mais conhecidos do grande público, Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, 35 anos, também colhe os frutos que o MMA lhe trouxe. Egresso de uma família de classe média de Vitória da Conquista (BA), ele conheceu as artes marciais na academia da mãe e logo se tornou um atleta de boxe e jiu-jítsu. “Em 1998 me chamaram para uma luta de MMA. Eu fiz por necessidade, por causa das contas, mas me apaixonei pelo esporte”, lembra. Com o lucro obtido com seu bom desempenho no octógono – o ringue do MMA – ele montou a maior academia de artes marciais do País e criou uma marca de suplementos alimentares e outra de roupas. “Graças a Deus consegui ganhar dinheiro com a luta. Mas não tenho tanta ambição material. Minha intenção é reinvestir nas academias o que ganho”, conta. Sobre a popularização do esporte e o assédio dos fãs, Minotauro diz, com orgulho, que aonde quer que vá é reconhecido e parado para tirar fotos e dar autógrafos, principalmente por crianças. “Eu curto ver que a gente está formando a opinião da garotada e que a imagem de um lutador hoje é diferente do que era antigamente, de pit boy.”  

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