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ANBA, liga americana de basquete, sempre foi considerada um modelo irretocável de gestão. Pioneira dentre as franquias esportivas em construção de valor de marca, a NBA parecia uma máquina de fazer dinheiro há pelo menos duas décadas, chegando a lucrar US$ 4 bilhões ao ano. Agora, além de a entidade ter perdido nesta temporada pelo menos US$ 300 milhões e de 23 das 30 equipes terem terminado o ano deficitárias, esse império do mundo dos negócios está ameaçado graças a um impasse trabalhista que opõe jogadores e proprietários de clubes. A crise começou em julho com uma renegociação de contratos, que inclui itens como a divisão dos lucros da liga e o fim do livre agenciamento (que infla os salários dos jogadores). Os proprietários, então, suspenderam os pagamentos e declararam greve na esperança de que um acordo com os atletas viria depois do cancelamento de alguns jogos. A ameaça não bastou e o conflito ganhou, nas últimas semanas, o contorno da maior crise pela qual a NBA já passou e que pode suspender de vez a temporada 2011-2012. Os atletas, que até então recebiam 57% dos ganhos financeiros envolvidos no negócio bilionário (leia quadro), rejeitaram a última proposta dos patrões, de divisão igualitária (50% – 50%). O locaute – como é chamada a greve dos patrões – foi anunciado e chegou aos tribunais de Justiça de Minnesota, nos Estados Unidos. No epicentro da polêmica, Michael Jordan afirmou: “O modelo que temos operado está falido. Precisamos de apoio financeiro durante o campeonato, assim como de margem maior de receitas para manter esse negócio vivo.” O maior ídolo do esporte mudou de lado e hoje é dono do mediano Charlotte Bobcats.

A frase fez os jornais do mundo todo relembrarem do último locaute, que aconteceu em 1998, ocasião em que Jordan, então a estrela do Chicago Bulls, criticou os donos: “Se você não consegue ter lucro, então você deve vender seu time.” Para Eduardo Agra, comentarista da ESPN, a posição de Jordan “pegou mal”, mas foi importante na perspectiva dos donos. “Sem a redução do teto, os times menores nunca poderão ser competitivos”, disse. Jordan se viu transfor­mado em vilão quando passou a liderar o núcleo duro dos proprietários e defender um teto salarial menor para os jogadores. O objetivo do grupo, e de Jordan, é diminuir os ganhos dos jogadores para 47% da receita.

Enquanto a briga entre do­nos de clubes e jogadores segue na corte americana, todos os jogos marcados até 15 de dezembro estão oficialmente cancelados. Além dos prejuízos de cerca de US$ 1 milhão por jogo aos proprietários, e de US$ 350 milhões mensais para o conjunto de jogadores, as comunidades locais têm sofrido com as perdas do comércio. O prejuízo para a marca, no entanto, é difícil de se medir, ao menos por enquanto. Mas não há dúvida de que ela – e seus ganhos milionários – está sob risco.  

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