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Na sala da presidência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, uma lâmpada fluorescente com defeito passa o tempo todo acendendo e apagando. Ela cria um estranho cenário para o ocupante da sala: ora ilumina, ora sombreia o rosto do deputado Antônio Palocci (PTSP). Mas, para quem saiu dos holofotes do Ministério da Fazenda para as escuras acusações de usar o Estado para perseguir um caseiro, o lusco-fusco das câmeras pode ser entendido como a luz no fim do túnel. Palocci está ressurgindo para novamente se tornar referência do PT e do governo na área econômica. O hábito de caminhar com o presidente Lula de manhã no Palácio da Alvorada, por exemplo, foi retomado. Conversas por telefone também são freqüentes. Nos encontros mais recentes, Palocci usa a crise do mercado imobiliário americano para reforçar o acerto da sua condução moderada quando foi ministro da Fazenda e enfrentou as críticas quase diárias daqueles que queriam baixar os juros. “Se o Brasil não tivesse se estruturado e robustecido a sua economia, já tinha rodado, como nas crises anteriores”, defende Palocci. “É claro que uma crise como essa vai provocar reflexos e forçar ajustes”, avalia. “Mas fora essas oscilações nas Bolsas e no câmbio, que são naturais, o Brasil pode passar quase ileso por ela”, conclui.

Há três semanas, a coordenação política do governo avaliou que o nome de Palocci seria o mais indicado para relatar o projeto que prorroga a CPMF na Câmara. Na semana passada, o projeto passou pela Comissão de Constituição e Justiça. Coube ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fazer o primeiro convite a Palocci para a tarefa. Palocci recusou. “Você já acertou isso com os outros partidos da base?”, perguntou. “Porque, se o PMDB quiser a tarefa, eu estou fora”, continuou. Uma semana depois, foi a vez de o líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), reforçar o convite. Palocci insistiu: “Tem que medir primeiro com os outros partidos. Essas coisas implicam uma sintonia fina muito grande. Se vocês me indicam, e o PMDB quer o cargo, nós vamos arriscar o destino de quase 100 votos no plenário?” Se o nome de Palocci puder, ao final, surgir como consenso, dentro de uma solução negociada, ele aceita a tarefa. “Como ministro, eu já comprei muita briga, até porque era minha função comprá-las. Agora, não quero mais. Não é hora de brigar”, argumentou com José Múcio.

 

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Uma das coisas que Palocci teme, caso se exponha num ambiente de disputa, é que se retomem os episódios que forçaram a sua saída do Ministério da Fazenda. Ele foi acusado pelo caseiro Francenildo Santos Costa de freqüentar a “República de Ribeirão”, mansão em Brasília onde ex-auxiliares de Palocci faziam reuniões de negócios e encontros menos republicanos. O ministro caiu depois que se tornaram públicos dados do sigilo bancário de uma conta bancária de Francenildo. A idéia era sugerir que ele tinha recebido dinheiro para fazer a denúncia. O que ficou foi a impressão de que Palocci tinha se valido de seus poderes para obter dados privados da conta de um cidadão em um banco estatal subordinado a ele. “Estou me defendendo nesses casos, mas é natural que essas coisas reapareçam se eu começar a me expor”, argumenta, nas conversas com os amigos.

 

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O que Palocci vem fazendo, e, segundo ele, com prazer, é administrar a aprovação de projetos que, ele acredita, poderão conferir ao País um ambiente mais moderno para as transações empresariais e econômicas. O primeiro deles altera as normas de contabilidade brasileiras, adequandoas às regras internacionais. “Isso vai baratear o trabalho das empresas quando elas entram no mercado externo”, afirma. O segundo projeto cria o Cadastro Positivo. “Hoje, quando alguém busca crédito, só há um cadastro negativo, que informa se, em algum momento, a pessoa foi devedora. Agora, haverá um cadastro que, ao contrário, mostrará o quanto a pessoa é boa pagadora. Isso diminui o risco do crédito e baixa os juros do financiamento”, explica. O terceiro projeto sistematiza as regras de defesa da concorrência. E há, finalmente, o projeto que normatiza as agências reguladoras. O próximo passo de Palocci será, a partir da Comissão de Finanças e Tributação, retomar a discussão das reformas tributária e da Previdência. E, se depois disso surgir oportunidade de voltar ao Executivo, Palocci pode até pensar, mas levando em conta o sofrimento do passado: “Eu só não quero é me meter em bola dividida”, avisa aos amigos e aliados.