A acne atinge cerca de 80% dos adolescentes e pode deixar cicatrizes na pele. Muita gente não liga para o assunto. Mas, dependendo de sua intensidade, já é considerada uma doença e não apenas um problema estético. Por isso, o Sistema Único de Saúde oferecerá a isotretinoína, remédio indicado contra a acne severa. “Não há previsão de quando a droga estará acessível em todo o País, mas o processo está em andamento”, diz o médico Alberto Beltrame, do Ministério da Saúde.

A idéia de tratar a acne grave – caracterizada pela presença de muitos nódulos na pele – na rede pública surgiu após a Sociedade Brasileira de Dermatologia apresentar dados assustadores às autoridades. “Há até casos de suicídio por causa dos problemas emocionais provocados pela doença”, conta Samuel Mandelbaum, presidente da regional paulista da entidade. “A adolescência é uma fase de auto-afirmação e o aparecimento de espinhas diminui a auto-estima dos jovens”, diz Denise Steiner, dermatologista de São Paulo. Outro argumento levado ao governo é o alto custo do tratamento. Dependendo da dosagem, uma caixa da isotretinoína (nome comercial Roacutan) custa entre R$ 92 e R$ 170. O genérico do remédio estará no mercado em dezembro por 40% menos.

A isotretinoína parece ser a única substância eficaz contra casos de acne grave não solucionados com outros tratamentos. Mas, antes de adotá-la, é preciso fazer vários testes. É necessário, por exemplo, saber se há problemas no fígado ou se as taxas de colesterol estão elevadas (o composto complica ainda mais esses quadros). Os exames devem ser repetidos 30 dias após o início do tratamento e a cada três meses. Para usar a droga, menores de 18 anos precisam da autorização dos pais. Foi o caso da estudante Natália Cordone, 15 anos, de Jundiaí, interior de São Paulo. Ela toma o medicamento desde agosto e comemora a diminuição da acne no rosto e no colo. “No ano que vem, vou poder usar blusa decotada”, festeja. Nem mesmo um dos efeitos colaterais do remédio – boca seca – a faz infeliz. “Uso hidratante labial”, conta. Segundo alguns médicos, o produto também causa depressão. O laboratório Roche, fabricante da droga, afirma não haver provas científicas sobre isso. A isotretinoína também é contra-indicada às mulheres que desejam engravidar, gestantes e lactantes, pois pode causar má-formação.

Atenção às emoções
Assim como a acne, outras doenças de pele também abalam o lado emocional. É o que mostra um estudo da Sociedade Brasileira de Dermatologia. A médica Lúcia Arruda analisou o impacto da psoríase – doença de causa desconhecida que deixa a pele avermelhada e causa descamações – na vida dos doentes. Cerca de 150 pacientes do ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí responderam a um questionário para avaliar como o mal interfere no dia-a-dia deles. Os dados mostraram que 40% se sentem constrangidos em situações nas quais o corpo fica em exposição, como ir à praia. Para Lúcia, o resultado indica que se deve levar em conta essas considerações ao tratar o paciente. “Não adianta apenas dar o remédio”, conclui. “É preciso ficar atento ao lado emocional”, diz.