O oncologista Daniel Tabak é uma espécie de enfant terrible do governo Lula. Ele está há 16 anos à frente do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo), do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e é considerado um dos maiores especialistas no assunto. Só que desde agosto do ano passado esse médico carioca vem tirando o sossego do ministro da Saúde, Humberto Costa,
e sua equipe. Há cinco meses, Tabak tornou pública a denúncia de que a prática de loteamento
político estaria sendo adotada no Inca. A denúncia criou tanto constrangimento no governo que culminou com o pedido de
exoneração do então diretor-geral do hospital, Jamil Haddad. Na segunda-feira 19, foi a vez do próprio Tabak entregar sua carta de demissão. Motivo: segundo ele, ingerência política.

“Os pacientes ficam angustiados, e o que vou dizer? Que é preciso ter, entre as prioridades da família do doente, um parlamentar influente para ajudar?”, ironiza o médico, que entregou seu pedido de demissão acompanhado de um documento de 12 páginas no qual lista todos os problemas enfrentados pelo Cemo. Tabak garante que o drama não é recente e o próprio diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, está ciente dos problemas desde outubro do ano passado. “Se houvesse recursos disponíveis, não haveria necessidade dos fura-filas. Esses existem porque os recursos são escassos”, analisa o médico, que aproveita para dar mais uma estocada no governo. “Até agora não sabemos qual é o orçamento oficial para o programa nacional de transplante de medula óssea.”

Não é de hoje que o médico está em rota de colisão com o governo, mas a situação piorou desde que Tabak assumiu a liderança do movimento que derrubou Haddad. Logo depois, passou a denunciar que havia irregularidades na fila de exames para transplante de medula óssea no Inca. O alvo de suas denúncias foi o Hospital Português, de Recife (PE), que teria sido credenciado às pressas para realizar transplantes de medula óssea entre não aparentados. A autorização teria sido dada pelo próprio ministro pernambucano Humberto Costa. O Ministério divulgou, na quinta-feira 22, nota oficial esclarecendo as denúncias. A autorização para o hospital realizar o transplante “foi apontada como de extrema necessidade para salvar a vida do garoto (N.K.R.S.F., de oito anos) pelo próprio Daniel Tabak”. As acusações tomaram tamanha proporção que o Ministério abriu sindicância. A investigação será feita pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS e o governo nomeará uma comissão de sindicância paralela, acompanhada pela Procuradoria Geral da República.

Além de não confirmarem as denúncias, o diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, e o diretor do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Arthur Chioro, ainda levantaram suspeitas sobre Tabak. Ele seria sócio de três empresas da área de oncologia, algo incompatível com o cargo público que exerce. São elas: Hematologia e Oncologia Daniel G. Tabak, Stencil Transplantes de Medula Óssea Ltda. e Centro de Tratamento de Oncologia. O pedido de demissão de Tabak foi aceito e para seu lugar foi nomeado interinamente o médico Luiz Bouza. Por causa das denúncias, Tabak deverá ser interpelado judicialmente e deverá enfrentar o conselho de ética do servidor público.