Qualidade de vida virou objeto do desejo. O tema martela na cabeça de todos que querem recuperar o vigor e a felicidade experimentados nas férias, numa praia maravilhosa. “Isso também é qualidade de vida. Mas a idéia é levar essa sensação para o dia-a-dia”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da seção brasileira da International Stress Management Association, entidade de manejo do stress com pesquisadores em mais de 50 países. É com esse objetivo que médicos e psicólogos se esmeram em definir os pilares de uma vida mais prazerosa. Há parâmetros reconhecidos por entidades do porte da Organização Mundial da Saúde e outros, mais novos. “Se eles forem praticados, farão a vida ficar menos sofrida”, diz Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). O americano Brian Seaward, autor de livros sobre o assunto, resume a nova abordagem. “Qualidade de vida é uma atitude. Inclui achar prazer nas coisas pequenas e valorizar o que se tem de bom”, diz. A seguir, ISTOÉ apresenta nove passos – referendados pela Isma-BR e a ABQV – que melhoram sua vida. Pronto para começar?

 
 

1 – Cuide da vida sexual

O alerta é da OMS: o sexo faz parte dos pilares de sustentação da qualidade de vida. “O sexo é uma necessidade básica, como dormir ou comer. Uma relação sexual satisfatória relaxa, aproxima os parceiros, melhora a auto-estima e o humor”, explica a psicóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo, especializada em sexualidade humana. O contrário também é verdadeiro. “O descontentamento com a vida sexual se reflete em muitas áreas. A pessoa fica mais irritadiça e introvertida, briga no trânsito, torna-se menos criativa, dorme mal”, descreve o sexólogo Moacir Costa, de São Paulo. Costa tem um programa transmitido por 139 rádios em que responde a questões sobre sexualidade. Por falta de informação, muita gente continua, no entanto, a levar uma vida sexual com menos qualidade do que poderia ter. “Mas existem profissionais e serviços de orientação em sexualidade espalhados pelo País. Vale a pena buscar ajuda para desfrutar dessa fonte de prazer na vida”, encoraja Costa. Um dos primeiros passos para isso não custa nada e pode ter um efeito surpreendente: conversar francamente com o parceiro sobre pontos de conflito.

 
 

2 – Tenha prazer

As obrigações diárias levam-nos a um roteiro que deve ser cumprido à risca. Muitas vezes, essa rotina funciona como um ralo por onde a energia vai embora. Conter esse processo começa com a consciência de que é importante proporcionar-se prazeres. E isso vai desde um passeio solitário pela manhã até pular de pára-quedas, ler, viajar ou simplesmente não fazer nada. “Gestos como esses relaxam e recarregam as energias“, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, da Isma-BR. Investir no relaxamento é, aliás, uma das chaves para ter contato com o prazer de viver. Ana Maria, por exemplo, ensina e pratica a técnica de relaxamento chamada respiração abdominal, que deve ser feita várias vezes ao dia. “A respiração é o que temos de mais importante para lidar com as emoções. Inspiro pelo nariz inflando o abdome e depois solto o ar, esvaziando a região da barriga, como os bebês”, ensina. O benefício virá na forma de mais energia e eficiência para lidar com as situações desgastantes.

3 – Garanta mais tempo
para si mesmo

Ficar mais tempo no trabalho, dificuldade de
dizer não e falta de planejamento são desafios
a ser vencidos para ter mais horas livres. Para
quê? “Se não ‘dermos um tempo’ em certos momentos, nosso desempenho, criatividade e motivação ficam comprometidos. Isso repercute na vida profissional e pessoal”, diz Ricardo de Marchi, de São Paulo, especialista em programas de qualidade de vida. Por isso, ele afirma que se deve ter como meta o equilíbrio entre vida pessoal, familiar e trabalho. “Algumas empresas entendem que importante é o resultado, e não o número de horas que as pessoas ficam visíveis no trabalho”, informa. Outra solução é o que ele chama de “negligência criativa”. “Se o problema não é urgente, pode ser resolvido no dia seguinte até de maneira mais criativa”, orienta. Mais um remédio é dizer, por exemplo, “desculpe, não posso fazer isso agora” quando se está no meio de algo importante. Ricardo também acha que a falta de tempo muitas vezes é, na verdade, falta de planejamento. “Organizando, dá”, acredita.

 
 

4 – Movimente o corpo

Há três bons motivos para fazer atividade física. Primeiro, diminui a gordura corporal, ajuda no controle da pressão arterial e da taxa de colesterol. Depois, ganhar um corpo mais torneado levanta a auto-estima. “E o indivíduo passa a lidar melhor com o stress porque está emocionalmente fortalecido”, explica Luís Carlos de Oliveira, vice-presidente do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul. E o terceiro benefício é a interação social. Ir a uma academia ou participar de um grupo de caminhada aumentam a roda de amigos. Mas, para que ocorram todos os ganhos, é preciso praticar no mínimo cinco dias por semana, durante 30 minutos, e com intensidade suficiente para elevar as freqüências respiratória e cardíaca e a transpiração. E segundo Edgar Corona, presidente da Bio Ritmo Academia, de São Paulo, uma das chaves para continuar na malhação é não desistir nos primeiros 30 dias. “Perceber as mudanças que ocorrem no corpo após esse período é uma grande motivação”, explica.

5 – Coma bem

Honestamente: você presta atenção no que come? Certamente não. E aí está o problema. Está provado que a alimentação é um dos fatores de qualidade de vida. Se for correta, as chances de as doenças aparecerem fica menor. “E ter saúde é viver uma vida mais feliz”, explica Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. Por alimentação equilibrada, entenda-se, entre outras coisas, a opção por pratos cheios de legumes e grãos e a economia no consumo das gorduras que fazem mal. Entre elas está a saturada, presente na carne vermelha. E não é preciso adotar a tediosa dobradinha salada/grelhado. A mudança dos hábitos à mesa pode ser gradual e o resultado, prazeroso. Consumir mais azeite e produtos industrializados com menos açúcar, por exemplo, continua sendo gostoso. Da mesma forma, não se perde nada ao trocar o molho quatro queijos, gorduroso e calórico, pelo de tomate, cheio de vitaminas e de licopeno (nutriente bastante estudado por seus potenciais benefícios contra o câncer).

 
 

6 – Não exija demais

“O trabalho me exige, eu exijo cada vez mais de mim e do outro.”A frase resume uma situação comum. No dia-a-dia, essa atitude alimenta a tensão interna, elevando o stress, e a externa. “O ambiente tenso aumenta o risco de mais erros ocorrerem”, avalia a psicóloga Samia Siburro, de São Paulo, especialista em gestão do stress. É preciso também prestar atenção no que este comportamento pode estar dizendo. “Ser exigente demais com os outros muitas vezes mostra um lado inseguro e dificuldade de lidar com as pressões”, diz Samia. Segundo ela, para mudar isso é preciso treinar a resiliência. O termo é emprestado da física e indica a capacidade de absorver impactos com flexibilidade.

 
 

7 – Vá ao médico
com regularidade

Esta é uma das maneiras garantidas de envelhecer bem. “Adotar este hábito previne doenças”, resume o clínico Antônio Antonietto, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. Não é à toa que se investe na detecção precoce das enfermidades. “Quanto mais cedo elas forem diagnosticadas, maiores as possibilidades de cura”, diz a cardiologista Samira Morhy, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. De fato. A chance de cura de um tumor de intestino diagnosticado no início, por exemplo, é de 100%. Por isso, a recomendação é que se façam exames anuais para investigação desse tipo de câncer a partir dos 60 anos (ou aos 50, quando há casos na família). Para cuidar da saúde de maneira geral, o ideal é procurar um médico depois dos 20 anos se houver história familiar de pressão alta, diabete e colesterol elevado. Caso contrário, a rotina de exames deve ser iniciada após os 40 anos.

 
 

8 – Mantenha boas relações

Ter com quem partilhar sucessos, tristezas, expectativas. Pode não parecer, mas isso conta muito para a vida ficar mais leve. “Dividir a angústia ajuda a manejar o stress, a passar pelas situações mais difíceis”, diz a cardiologista Danielli Bezen, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. O problema é que muita gente anda se esquecendo da importância da amizade, do afeto. “A família, por exemplo, está desmontada. O pai não tem tempo, a mãe também não. Qual o momento da real vivência afetiva, de rir, de falar das frustrações e alegrias?”, indaga a psicóloga Edina Bom Sucesso, de Belo Horizonte, especializada em relações interpessoais. Para reativar e manter essa rede de apoio, não é necessário fazer grandes atos. “É preciso tomar pequenas iniciativas amorosas e autênticas. É telefonar para um amigo que não vê há tempos, é avisar que vai chegar tarde em casa”, sugere Edina. “A vida que vale a pena conjuga afeto”, diz.

 
 

9 – Cultive a espiritualidade

Um número cada vez maior de pesquisas científicas mostra que as pessoas engajadas em práticas espirituais têm uma atitude mais otimista diante da vida e se recuperam mais rapidamente de doenças e cirurgias. Elas também possuem menos comportamentos autodestrutivos (como tabagismo, alcoolismo ou dependência de drogas), mais confiança, laços afetivos e maior satisfação com a vida de uma forma geral. Resta entender o que é espiritualidade. “É ter a experiência de sentir um significado ou propósito mais profundo da vida, a presença de um poder mais elevado guiando as nossas vidas, um sentido de harmonia com o universo. Para isso, não são necessárias crenças ou práticas religiosas. Recursos como ioga, meditação e técnicas de respiração profunda e até ser voluntário em ações sociais contribuem para expandir nossas mentes”, orienta a psicóloga Susan Andrews, formada na Universidade de Harvard, nos EUA, e especializada em biopsicologia, o estudo da relação entre saúde, corpo e mente. Todos, até os ateus, podem seguir as recomendações e sentir seus benefícios.