A alta cúpula das empresas vive tempos de técnico de futebol. Para cair, bastam três ou quatro derrotas. A Parmalat, por exemplo, está com seu terceiro presidente em menos de dois anos, o brasileiro Ricardo Gonçalves, ex-presidente da Nestlé no Brasil, que havia perdido seu cargo no início do ano para Ivan Zurita. Nos Estados Unidos, o “poderoso” Jacques Nasser, apelidado de “Jac, o estripador” pela volúpia em cortar custos, foi vítima da própria política na presidência da Ford. Caíram as vendas, a qualidade dos veículos e, por fim, ele próprio, que havia assumido o cargo em janeiro de 1999. Em seu lugar entrou, em 30 de outubro, ninguém menos que o bisneto do fundador da companhia, William Clay Ford Jr., 44 anos, com uma riqueza a perder de vista e pelo menos dois diplomas que o livram da pecha de “bisnetinho” – economia pela Universidade de Princeton e doutor em administração de empresas pelo MIT, o honorável Massachusetts Institute of Technology.

Aqui, a bola da vez, segundo rumores trazidos de jornais alemães, seria o presidente da Volkswagen do Brasil, o austríaco Herbert Demel. Não, ele não vai cair. Pode até ser promovido pela matriz. Mas, dizem, pode ir embora do Brasil mais cedo do que anuncia – meados do ano que vem, depois do lançamento do Polo, um projeto desenvolvido sob sua responsabilidade. Dentro da VW, essa é uma suspeita corrente. Demel teria pisado na bola mais do que o suportável para sua imagem e para a imagem da VW. Primeiro, perdeu a operação da Argentina, que era subsidiária do Brasil. Pela crise do país, mas também por um certo desmazelo administrativo. “Ele quase nunca ia para lá”, diz um executivo da VW. Meses depois perdeu o comando da fábrica de caminhões de Resende, no Rio. Perdeu também executivos de alto nível, cobiçados pelo mercado, como Miguel Jorge, hoje vice-presidente de assuntos corporativos do grupo Santander Banespa, e, três meses depois, Fernando Tadeu Perez, que tinha mais de 20 anos de VW e grande habilidade como negociador. Perez foi para o Itaú como diretor de recursos humanos.

A pisada mais recente foi a decisão de demitir por carta, e aparentemente sem critério, três mil funcionários da fábrica da Anchieta, a exemplo do que fez Ivan Fonseca e Silva, ex-presidente da Ford, às vésperas do Natal de 1998. Meses depois, ele perderia o cargo.

As demissões não ocorreram, mas, aos olhos do mercado, Demel perdeu prestígio pela atitude truculenta e, em seguida, por deixar que as negociações com os metalúrgicos do ABC fossem levadas a Peter Hartz, o vice-presidente mundial de RH, na Alemanha. A impressão que ficou é de que ele não teria conseguido resolver um problema doméstico, função pela qual é regiamente remunerado. Há quem suspeite de que o desfecho da negociação com os metalúrgicos na Alemanha tenha sido traçado pelo próprio Demel. Ainda assim, o feitiço teria se voltado contra o feiticeiro, prevalecendo a idéia de fraqueza.

Em entrevistas à imprensa, o presidente da VW nega que deixará o posto antes do lançamento do Polo. Ele acaba de anunciar o sucessor de Perez para o cargo que estava vago desde junho. É o administrador de empresas João Francisco Rached de Oliveira, 47 anos, que saiu da Brasil Telecom. Demel demorou para substituir Perez, o que o forçou a enfrentar diretamente as negociações com o sindicato. Foi quando expôs ao público seu ponto fraco: entre a cabeça que carrega um alto QI e os pés no chão (a fábrica da Anchieta, não se discute, exige mudanças profundas), Herbert Demel tem a cintura dura do engenheiro mecânico.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias