Com o desemprego atingindo um número cada vez maior de brasileiros – em São Paulo, o índice está em cerca de 18% –, os currículos que chegam às mãos dos profissionais de recursos humanos crescem em progressão geométrica. As técnicas de seleção tradicionais, baseadas em testes psicológicos, já não satisfazem o setor, que adicionou a sutileza do esoterismo à escolha do funcionário ideal. Na hora de definir candidatos vale tudo: numerologia, grafologia e, principalmente, astrologia. As técnicas alternativas de recrutamento existem há muito anos, só que a discussão sobre o tema ainda é reservada. O preconceito vem sendo vencido aos poucos. Prova disso é que no dia 30 a Associação Paulista de Recursos Humanos estará no seminário Brasil Corpo e Alma, que pretende “oficializar” a integração entre a astrologia e a área empresarial.

O número de adeptos cresce silenciosamente. O engenheiro e astrólogo Maurício Bernis presta serviços de consultoria astrológica para empresas desde 1989 e já atendeu 600 empresas. “O ideal é fazer análises desde a inauguração. Analisamos a melhor data de nascimento da empresa, o mapa astral dos sócios e até a seleção dos funcionários. Só não adianta procurar ajuda quando a empresa está prestes a falir”, aconselha. Renata de Lima, uma das três sócias da Livraria Triom, em São Paulo, apostou nos astros e não se arrependeu. Ela acredita que uma análise astrológica bem feita é capaz de indicar se o empreendimento terá sucesso. Antes de inaugurar a loja, Renata quis ter certeza da compatibilidade astral das três proprietárias, consultou sobre o melhor dia para a assinatura do contrato e pediu análise dos mapas dos funcionários da empresa. “Antes de pedir o currículo, quero ver o mapa astral do candidato”, brinca Renata. Hoje, depois de dez anos de funcionamento, a Triom virou editora e passará a funcionar num prédio maior. Para Renata, um sucesso que estava escrito nas estrelas.

A desenvoltura de Renata em assumir o uso dessa ferramenta ainda surpreende. De acordo com os astrólogos, 90% dos contratos de consultoria pedem sigilo absoluto. Na contratação de funcionários, o segredo é justificável. Afinal, julgar a capacidade de alguém segundo seu mapa astral ou a numerologia pode ser classificado como um critério arbitrário. A astróloga Cláudia Lisboa, do Rio, que há 20 anos também trabalha com o setor empresarial, vai ainda mais fundo. “A relação entre astrólogo e cliente é como a do terapeuta com seu paciente. Nada pode sair do consultório sem autorização. Ela lembra que não apenas empresas ou setores de recrutamento se pautam pela astrologia. “Presidentes americanos da era mais recente sempre marcaram a hora de sua posse com base em consultas astrológicas. Parece que George W. Bush não fez o mesmo. Assumiu o cargo com Marte no Escorpião, quadratura com Urano, o que se traduz em inimigos declarados e guerra na certa”, avalia.

Também na capital carioca, a terapeuta e astróloga Virgínia Cavalcanti faz mais do que calcular mapas. Ela ministra cursos de signos para profissionais de recursos humanos. “É uma técnica de seleção muito usada na Inglaterra. Pelos signos, consegue-se ver as aptidões das pessoas. Cada um tem uma função básica, um objetivo.” Ela conta que uma cliente a procurou para fazer seu mapa. Queria abrir um estacionamento. “Pela data, lugar e trânsitos astrais, aconselhei-a a desistir do empreendimento. Ela insistiu. Depois de dois meses, a empresa faliu.”

Sedução – Parece que os astros são implacáveis. Mas como as análises da astrologia, da numerologia e da grafologia não têm caráter científico, elas são facilmente encaradas como formas de adivinhação e charlatanismo. Pessoas para questionar os métodos não faltam, poucas porém resistem à sedução que eles exercem. Há 18 anos, a engenheira e matemática Suely de Souza resolveu iniciar uma pesquisa aprofundada para encontrar erros e provar a tese de que a numerologia era pura enganação. Passou três anos debruçada sobre livros e calculadoras. Segundo ela, não encontrou erros e acabou virando professora de numerologia. Há 15 anos, passou a fazer consultoria pessoal e empresarial. Ela atende em média dois empresários por dia, a maioria prestes a começar um novo empreendimento. Suely relata que a numerologia, muitas vezes, é usada como um segredo do selecionador. “É uma arma que eles não levam nem para o presidente da empresa. Quando vão entrevistar o candidato já conhecem o seu perfil, feito pela composição numerológica do seu nome.”

Há ainda os que preferem um mix. Sob a orientação da arquiteta e astróloga Patrícia Ungarelli e do terapeuta floral e radiestesista José Augusto Correa, os três sócios da microempresa Climax usaram feng shui, radiestesia e cromoterapia, além da astrologia, para iniciar há dois anos o empreendimento. Mandaram fazer o mapa astral da empresa e deles próprios. Só inauguraram na data e no horário indicados e contrataram seis dos oito funcionários com base na análise de seus mapas. “Cheguei a cancelar duas escolhas porque os mapas desaconselharam”, contou Oscar Unga Neto, 26 anos, um dos donos da Climax. Ele garante que a empresa está indo de vento em popa. “Até agora tudo deu certo”, comemora.