Disquetes de computador, toca-fitas e videocassetes têm ao menos um ponto em comum: o destino de virar raridade. É o mesmo caminho trilhado pelo disco de vinil, substituído pelo CD, que foi criado em 1982. Para turbinar seus lucros, a indústria de eletroeletrônicos oferece novidades todos os anos. Acaba por convencer o consumidor de que seus produtos estão desatualizados, mesmo quando eles atendem perfeitamente às suas necessidades.

Em muitos casos, a evolução tecnológica é pura imposição. No mês passado, o site britânico The Observer divulgou documentos confidenciais em que a Intel, maior produtora de processadores para PC do mundo, tentava convencer os fabricantes a eliminar o acionador de disquetes de 3,5 polegadas da nova geração de computadores. “Trabalhamos para oferecer tecnologias mais modernas e eficientes”, afirma Paulo Lamanna, gerente de aplicações da Intel Brasil. Os substitutos dos disquetes seriam os gravadores de CD, que armazenam 650 MB de informação, contra 1,44 MB do disquete, e guardam 74 minutos de música num único disco (leia quadro).

A Intel alega que a iniciativa de aposentar o disquete deve partir dos fabricantes, que atribuem a palavra final ao cliente. “Estamos prontos para abolir os drives de disquete, mas o usuário ainda quer tê-los em suas máquinas”, diz Júlio Prado, gerente de marketing da IBM. Na prática, a decisão sobre a morte prematura de um produto independe da vontade do consumidor. Em 1998, a Apple retirou os disquetes ao lançar os computadores coloridos iMac, apesar da chiadeira generalizada entre seus fãs.

O nome para a tática de empurrar produtos novos, nem sempre melhores e muitas vezes mais caros, é obsolescência programada. A indústria de consumo estipula um prazo para a morte de determinada mercadoria, tornando-a aparentemente ultrapassada. “É uma forma de manter as vendas sempre em alta”, diz o consultor de telecomunicações Virgílio Freire, ex-presidente da operadora Vésper.

A prática nem sempre é nociva. Muitas vezes resulta em inovações que caem no gosto do freguês. O melhor exemplo está no CD, que substituiu com vantagens as velhas bolachas de vinil. Agora é a vez dos aparelhos de DVD. Em setembro, pela primeira vez, suas vendas ultrapassaram a de videocassetes no Brasil – o placar foi de 73 mil a 70 mil unidades. O toca-fitas para carros é outro que está com a corda no pescoço. A Blaupunkt, divisão de áudio da Bosch, vende 11 modelos de CD player e apenas um de toca-fitas para carro, o que representa menos de 5% das vendas. Mais um produto na marca do pênalti.