Dezoito horas da quarta-feira 20 em Goiânia. Duzentos homens da Polícia Civil e da Polícia Militar de Goiás cercam os locais onde funcionavam as três grandes bancas do jogo do bicho no Estado. A ação dos policiais, comandados pelo secretário de Segurança e Justiça, Demóstenes Torres, é rápida. As três bancas são estouradas, com 62 contraventores presos em flagrante e apreensão de material de jogo, equipamentos e toda a féria do dia. "É o golpe fatal no jogo do bicho em Goiás", comemorou o governador Marconi Perillo (PSDB), que havia ordenado a operação sete dias antes, depois de informado que o esquema, comandado pelos bicheiros Alencar Júnior, ex-campeão brasileiro de automobilismo, e Messias Ribeiro, continuava a existir. Em junho de 1999, ISTOÉ havia denunciado a existência de um esquema oficial do jogo do bicho com o governo de Goiás, formalizado em 1995 pelo governo anterior. Na época, Perillo anunciou a anulação dos contratos entre a Loteria do Estado de Goiás (LEG) e a Gerplan, empresa criada pelos bicheiros para gerenciar todo tipo de jogo oficial e clandestino em Goiás.

Assim, o governo estadual passou a ser o responsável pelo jogo legalizado no Estado, o que inclui a Loteria Estadual, a Raspadinha e a Vídeo Loteria, em que as apostas são feitas em uma rede interligada de terminais. Mas o jogo do bicho, que contava com um lobby formado até por deputados federais, como Jovair Arantes (PSDB) e Pedro Canedo (PFL), tentava manter seu espaço e buscava até implantar uma rede de lojas com caça-níqueis no Estado, além de criar a Palpiteca, um jogo do bicho eletrônico, mas que era apenas parte do mesmo jogo tradicionalmente feito no papel. O esquema foi novamente denunciado em setembro de 1999 por ISTOÉ e levou a uma investigação nas máquinas da Palpiteca, que foram apreendidas.

A operação da quarta-feira foi realizada porque o bicho, em suas versões papel e eletrônica, estava voltando a atuar. "Desde o começo do governo, determinei o combate rigoroso à contravenção no Estado. Nunca permitirei nenhum vínculo entre o bicho e meu governo", afirmou o governador. Goiás hoje é modelo da oficialização de jogos de apostas administrados pelo Estado. Somente com a Loteria, a Vídeo Loteria e a Raspadinha, administradas pela LEG, o governo recebe mensalmente R$ 1 milhão para projetos sociais. Essa justificativa é o principal argumento a favor da estatização. Agora, com os bicheiros fora do circuito, o próximo passo de Goiás é desenvolver uma espécie de jogo do bicho oficial, com apostas controladas por computador.