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Que tal ficar um ano sem se olhar no espelho? Ou sem comprar nada? Mais: 365 dias sem carro. Pior, sem celular. Ou, o horror!, passar 12 meses usando o mesmo vestido. Todas essas propostas parecem irracionais, mas foram pensadas por pessoas que se propõem desafios pessoais e compartilham a experiência com desconhecidos por meio de blogs. Virou mania. A fonte dessa peculiar experiência é a escritora americana Julie Powell, que resolveu cozinhar as 524 receitas de um livro da chef e apresentadora de tevê conterrânea Julia Child, ao longo de 2002, e publicar o resultado em um blog – em 2009 a história virou o filme “Julie & Julia” estrelado por Meryl Streep. Lá se vão quase dez anos e o formato foi sendo adaptado até chegar à atual febre, em que blogs são criados para relatar epopeias pessoais. Cozinha e guarda-roupas são os principais laboratórios, mas não os únicos. O importante é propor um desafio, comprometer-se e tentar não desistir. Para a psicóloga da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Junia Vilhena, os blogs de promessas são uma maneira lúdica de superar metas, mudar o comportamento e refletir sobre determinado assunto contando com o apoio e a opinião de um grupo. “É como se não bastasse uma decisão própria”, diz. “É necessário, e mais divertido, dar visibilidade para se comprometer.”

As publicitárias mineiras Elisa Mendes e Steffania Paola, 27 anos, decidiram, em dezembro de 2010, fazer algo que nunca tinham feito na vida, uma vez por dia, durante 365 dias. Para isso surgiu o blog 365 Nuncas, em 1º de janeiro, hoje com três mil acessos diários. “É preciso disciplina, pois, além de fazer, tem que escrever e publicar. E nem sempre nos propomos algo simples”, diz Steffania. Uma das tarefas mais trabalhosas e divertidas foi um jantar formal em uma rede de fast food. Steffania levou pratos, talheres de prata, taças, toalha de mesa e guardanapos de linho para o restaurante, convidou cinco amigos e em cinco minutos o jantar – hambúrgueres e batatas fritas – ficou pronto. Elas já dormiram em uma cama de loja e também beliscaram o bumbum de um guarda de trânsito. Steffania até já pensa em um próximo desafio, de menor duração. Elisa, no entanto, não vê a hora de o ano chegar ao fim. “É divertido, mas cansativo.”

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Comprar era uma distração e uma válvula de escape para a publicitária paulista Joanna Moura, 27 anos. Decidida a abandonar o hábito que colocava sua conta no vermelho, ela resolveu tomar uma medida drástica: ficar um ano sem comprar roupa. Em busca de força, criou o blog Um Ano Sem Zara, hoje com 20 mil acessos diários. A cerca de 100 dias de completar o desafio, Joanna diz já sentir mudanças na sua relação com o dinheiro. “Deixei de ser tão impulsiva e me vejo mais consciente com relação à minha vida financeira.” Ela acredita que, sem o blog, teria sucumbido ao desafio já no primeiro mês. “O monitoramento e o incentivo das leitoras é essencial.”

Agora, tentem imaginar o que significa, para uma mulher, não se olhar no espelho durante um ano. Muitas acham o desafio impossível de ser cumprido. Mas foi o que fez a socióloga americana Kjerstin Gruys, 28 anos, seis meses antes de – simplesmente – se casar. “Quis tirar o foco da minha eterna briga com a imagem naquele momento. E passar longe de espelhos pareceu uma boa solução”, contou ela à ISTOÉ. Todos os espelhos de casa foram cobertos, até mesmo no dia da festa. A experiência lhe deu mais confiança. “Os meus leitores me mantêm na linha. Eles têm grandes expectativas, e eu tento correspondê-las.” Ao contrário do que possa parecer, o dia do casamento foi o mais fácil. “Um cabeleireiro fez o meu cabelo; e a minha cunhada, a maquiagem. Nem precisei do espelho”, explica Kjerstin, que já atingiu 44 mil acessos em um dia. 

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Há resoluções polêmicas. A jornalista Letícia Fernández (pseudônimo), 31 anos, empolgada com uma animada vida sexual no começo do ano, criou o blog Cem Homens. Isso mesmo. No ritmo em que estava, ela considerou que poderia fechar o ano tendo dormido com um total de 100 parceiros e criou um blog para contar a saga. A página virou um sucesso, tem 12 mil acessos diários, mas o fetiche que o número provocou nos leitores fez a autora desistir de tamanha exposição. “Muita gente não se envolve nem com 10% desse número durante a vida toda. Os xingamentos me cansaram.” Agora, ela fala sobre as experiências na internet, mas não cita nomes. O desafio da contagem de Letícia foi por água abaixo, mas sua experiência, assim como de Joanna, Kjerstin, Elisa e Steffania continua.


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