A Justiça é cega, reza a cartilha – mas bem que olha, quando convém, pelo próximo. No caso, por aqueles bem próximos. Eis que alguns juízes deste Brasil varonil, na luta por privilégios a parentes e apaniguados, acharam uma injustiça a nova resolução – agora definitivamente sacramentada pelo Supremo Tribunal Federal – que decreta o fim do nepotismo e estabelece a imediata exoneração dos ditos-cujos familiares em cargos do aparelho judiciário. Num primeiro movimento, antes da resolução final, nada menos que 1.150 liminares abarrotaram as barras dos tribunais em 18 Estados para evitar as demissões. Seria uma injustiça mexer com os parentes da Justiça? Ou a justiça estaria na disputa justa pelos postos da magistratura? De quem é o direito? A máxima da ironia legal prega que “todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que outros”. Tome-se a elementar contagem do número de participantes de concursos públicos que visam a colocações dentro do Judiciário e se verá a real dimensão da injustiça. Milhares tentam. A enésima parte consegue. Aos parentes do Judiciário cabia até aqui uma espécie de direito natural: o caminho fácil rumo ao abrigo da lei, numa estabilidade bem-remunerada, sem a necessária avaliação de méritos. Uma juíza do Nordeste, em sua oratória inflamada para defender o status quo até então vigente, chegou a pontuar: “Parente não é leproso.” Cabe o aparte à ilustríssima doutora: e quem não é parente o é ?


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