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Desde o surgimento da fotografia no séc. XIX, a morte da pintura já foi anunciada um sem-número de vezes. De certo, a pintura não morreu e não foi modificada apenas pela prática fotográfica, mas também pela mudança do foco pictórico. O modernismo trouxe as expressões abstratas, as fusões surrealistas e o minimalismo geométrico, atropelando a figuração realista, mas traduzindo de maneira precisa a complexidade do fazer artístico. Hoje, no trabalho de jovens pintores, todas as crises da pintura vêm contribuir para uma permanente reinvenção dessa técnica. “Ainda viva”, série recente do carioca Pedro Varela, é uma brincadeira com essas centenas de mortes anunciadas da pintura. “Ao mesmo tempo, esse título evidencia o caráter fantasioso das minhas paisagens”, diz Varela, que faz uma tradução literal do termo em inglês still life, também conhecido como natureza morta – um dos gêneros mais praticados na história da pintura.

Nas dez telas expostas na Zipper, o artista dá preferência a figuras de flores e florestas em detrimento das cidades imaginárias que estamparam suas séries anteriores. Mas o aparecimento da figuração vegetal não se dá somente como menção ao gênero quase esquecido das naturezas mortas, mas também como referência às ilustrações científicas dos naturalistas do século XIX. Aqui, uma ironia: a precisão técnica está a serviço da ordem fantástica das criações de Varela. Os poucos edifícos e referências urbanas que aparecem nas novas pinturas possuem uma composição rítmica tão orgânica quanto as plantas imaginárias. “As cidades ainda aparecem, mas com menos intensidade. Introduzi as florestas que, de certa forma, já apareciam na minha obra através da influência da arte oriental”, comenta o artista. Se o que de fato morreu foi a obrigação da pintura para com o real, o artista esteve muito livre para dar vazão às suas próprias paisagens.


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