Gabriela, Julia, Dona Flor – todas tiveram a sua época, todas despertaram paixão e inspiraram músicas antológicas (que o diga Chico Buarque em O que será), todas brilharam, assim como tantas outras mulheres sensuais e brejeiras encarnadas na pele morena, no rosto lindo e provocante, na cabeleira farta e no olhar de tigresa da atriz Sonia Braga. Depois de tanta glória no passado e com o estonteante charme que continua no presente, agora essa atriz paranaense de 55 anos está à procura de uma chance para provar que continua em plena forma apesar da idade madura. Foram quase duas décadas trabalhando em Nova York. Mas a “exilada cultural” Sonia Braga decidiu voltar para casa e bem ao seu estilo: sem tapete vermelho e com a humildade de quem se considera não uma estrela, mas uma “operária” das artes. Com a humildade de quem procura emprego. Trocou o apartamento em Manhattan por uma casa em Niterói, de onde pretende renascer para os brasileiros. E com os seus olhos vidrados no mercado nacional, que durante muitos anos a desempregou e a ignorou, Sonia Braga manda o seu recado: quer voltar a fazer novelas, filmes ou “comerciais de sandálias” – quer trabalhar, quer emprego, quer fazer aquilo que tiver a sua cara. “Estou, como sempre estive, à disposição”, disse ela a ISTOÉ. “Assim como Gabriela, que há 30 anos ajudou a mulher brasileira e a mim mesma a encarar a própria beleza morena, quero que as pessoas conheçam a mulher madura que hoje mora em mim.”

Para quem tem menos de 40 anos, talvez seja difícil entender o que significa o retorno (como ainda é inexplicável o sumiço) de Sonia Braga, maior símbolo sexual de sua geração. Eis alguns de seus grandes papéis: Tieta, de Cacá Diegues, marcou há dez anos a sua reentrada profissional no Brasil, mas para muitos isso não conta porque logo ela sumiu. Pioneira em programas infantis, foi a professorinha Ana Maria em Vila Sésamo. Musa das telenovelas, ela incorporou Gabriela e Julia. Deusa do cinema nacional, esbanjou sensualidade em Dona Flor e seus dois maridos, A dama do lotação, Eu te amo, O beijo da mulher aranha. “Hoje sou mais camaleoa que tigresa, só pra roubar outra música do Caetano”, diz ela, referindo-se à canção que Caetano Veloso escreveu inspirado nela. “Mas adoro que me chamem de sex symbol”, autoriza Sonia, conversando com ISTOÉ por telefone, de Nova York, no intervalo das filmagens de The hottest state, dirigido pelo ator Ethan Hawke.

Morando nos EUA desde 1986, Sonia atuou em duas dezenas de filmes, fez aparições em mais de dez produções (incluindo Sex and the city e Alias), mas nada à altura de seu talento. E andava se queixando de fazer personagens a um passo da terceira idade. Faz tempo que ela mantém “as malas prontas para voltar ao País”, mas “projetos nunca apareciam”. Sonia diz que passou a ser vista como “fora do mercado”. Retorna agora para o Brasil no mês que vem. E completa: “Do ponto de vista do cinema e da televisão brasileira, a câmera mal conseguia me enxergar nos EUA.” Solteira, bonita, e doida para trabalhar, ela sonha colorido: “Eu sou uma tinta na palheta do artista. Confio na minha tonalidade e no meu talento.”,