Em seu leito de morte, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, com apenas 35 anos, teria tentado finalizar um réquiem encomendado por um misterioso mascarado. Lenda e delírio. Aliás, na sua mente delirante, o mascarado seria a velha senhora de negro que simboliza a morte. Histórias como essa ajudaram a criar um dos maiores mitos dos tempos modernos – o mito do Divino Amadeus, o gênio do classicismo, autor de mais de 600 obras. Mito que começa a ser repensado agora quando acontece o seu coroamento como ícone pop nas celebrações dos 250 anos de seu nascimento. Saindo da lenda e entrando nos fatos, sabe-se que o Réquiem inacabado foi encomendado pelo conde Von Walsegg-Stuppach. Ou seja: não houve mascarado algum na morte de Mozart. Corria também a lenda de que o Réquiem fora pedido por Antonio Salieri, o músico que entrou para a história como “invejoso, rival medíocre de Mozart”. Isso é falso. E o Réquiem tem até um final. É aí que o Brasil entra na festa com um CD lançado na França. Nele há um final inédito (Libera me), composto em 1819 pelo austríaco Sigismund Neukomm. Como quem encomendou esse final foi o padre José Maurício, a partitura se chama Manuscrito do Rio.

Também não é verdade que Salieri tenha sido o medíocre que pintaram. E há até quem radicalize: Mozart foi genial, mas se apropriou de idéias de seu arquiinimigo. Outra história duvidosa é seu sepultamento numa vala comum. Essa mitificação é enterrada porque, por decreto imperial, até um divino Mozart, freqüentador da corte, teria mesmo aquele destino na época. A maior revisão é sobre o seu legado na linha evolutiva de Haydn a Beethoven. Estudiosos afirmam que Mozart não revolucionou, apenas aperfeiçoou antecessores. O maestro Roberto Minczuk diz que a supremacia é de Beethoven, mas admite: “É impossível pensar a vida sem Mozart.”