Imagine um táxi que, de tão pequeno, seja invisível aos olhos humanos. Ou seja: a nanotecnologia desenvolvendo uma espécie de nanotáxi. E de ouro. Agora, imagine que, dentro desse veículo dourado, vá belo e sossegado um vírus carregando numa nanobolsa poderosos medicamentos contra células cancerosas. Pois bem, imaginado tudo isso, está-se diante da mais nova e revolucionária terapia contra o câncer, doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde, deve matar em todo o mundo cerca de 84 milhões de pessoas ao longo de uma década.

Enquanto a quimioterapia tradicional pode ser vista como um tiro de canhão, já
que atinge as células doentes, mas também lesa as células saudáveis das imediações, esse vírus do ouro vai com a precisão e a potência de um míssil teleguiado diretamente ao alvo, e somente ao alvo – a célula que precisa ser destruída antes que leve o câncer a outros conjuntos celulares (processo
conhecido como metástase).

Três cientistas brasileiros que atuam no Centro de Câncer MD Anderson da Universidade do Texas assinam essa pesquisa: Renata Pasqualini, Wadid Arap
e Glauco Ranna de Souza. Quando eles descobriram que os tecidos doentes,
como tumores, exibem moléculas individualizadas em suas superfícies (como se fossem as impressões digitais de cada célula doente), os três pesquisadores desenvolveram em laboratório receptores complementares dessas moléculas. Assim se explica por que o nanotáxi de ouro não erra o alvo: uma vez injetado no corpo, o vírus (inócuo ao organismo humano) leva consigo justamente esse “complemento molecular” com medicamentos. E, por ser um complemento das próprias moléculas das células doentias, é impossível haver erro de identificação
de endereço. Bem mais simples é o motivo de o nanotáxi, mais fino que um fio
de cabelo, ser de ouro: esse material permite que se rastreie o seu caminhar
no organismo. Essa terapia publicada no periódico PNAS (www.pnas.org), ainda passará por testes até que possa ser empregada em seres humanos. Mas sem dúvida é a mais dourada das armas contra o câncer de que a ciência lança mão
nos últimos tempos.


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