Por mais frio e rigoroso que seja, o inverno
no Egito costuma ser também o ponto alto
na temporada de caça às múmias – é
nesse período do ano que os arqueólogos vasculham as areias do deserto em busca de pistas que desvendem os mistérios dessa fascinante e antiga civilização. Este mês de fevereiro foi generoso: houve a descoberta da mais importante tumba dos últimos 84 anos, desde que o arqueólogo britânico Howard Carter desenterrou o sarcófago de Tutancamon em 1922.

Quem anunciou o encontro desse tesouro foi o mais famoso arqueólogo do Egito, Zahi Hawass, que também é o responsável por todos os museus e monumentos do país. O extraordinário dessa descoberta é que ela se deu no Vale dos Reis, a verdadeira cidade das múmias, onde já se supôs que não houvesse mais nada com valor histórico. Localizada onde fica hoje a cidade de Luxor, ao sul do Cairo, essa região era usada como cemitério para reis, rainhas e a alta nobreza do Egito Antigo.

A descoberta foi quase por acaso. Uma equipe de arqueólogos americanos da Universidade de Memphis fazia escavações quando topou com uma caverna. Por uma passagem estreita, contornada por blocos de pedra, eles viram uma sepultura com pelo menos três mil anos de idade. A tumba estava intacta e guardava cinco sarcófagos de madeira cobertos por coloridas máscaras funerárias. Dentro da câmara, 20 jarras brancas de alabastro, ainda com o selo faraônico, cercavam as múmias como se fossem um escudo místico. Algumas das jarras estavam quebradas e outras traziam oferendas aos deuses. “Ainda não há pistas sobre a identidade dessas múmias. Talvez sejam reis e rainhas”, diz Hawass. Tudo indica que os sarcófagos pertencem à 18ª dinastia, que durou de 1500 a 1300 antes de Cristo – foi a primeira do Novo Reinado e um dos momentos mais exuberantes e ricos da história do Egito Antigo.

A descoberta dessas múmias no local que já foi a necrópole da mais famosa cidade egípcia pode despertar uma nova corrida ao deserto. Espera-se encontrar ali os restos mortais de personalidades como o faraó Horemheb, que encerrou a 18ª dinastia egípcia e cujo sarcófago permanece um mistério. O mesmo vale para a famosa e bela Nefertiti, a mulher do faraó Akhenaton, cuja múmia nunca foi localizada. Para descobrir a idade deles, assim como a da sepultura achada no Vale dos Reis, começa outra fase de penoso trabalho com o emprego de um arsenal tecnológico. E ninguém mergulha mais de cabeça e de coração nesse trabalho do que Zahi Hawass, o chefe das antiguidades egípcias. Ele é conhecido como uma versão moderna e em carne e osso do personagem de cinema Indiana Jones. E costuma dizer: “Minha alma e meu conhecimento científico habitam magicamente a cidade das múmias.”