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AQUÁTICA A rã foi descoberta no Pantanal e sua pele pode ser o mais novo tratamento para a doença

A Organização Mundial da Saúde considera a diabete uma epidemia – juntamente com a hipertensão, por exemplo, ela é a doença que mais mata no Brasil e estima-se que, em todo o mundo, 180 milhões de pessoas sofram desse mal (a previsão para 2025 é de que esse número chegue a 350 milhões). Segundo Pedro Saddi, endocrinologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o aumento da enfermidade em seu “tipo 2” deve-se à obesidade e ao sedentarismo, fatores cada vez mais presentes em grandes metrópoles como São Paulo, Nova York e Londres. O organismo com diabete não produz insulina suficiente, levando o paciente a não ter condições de regular naturalmente os níveis de glicose no sangue. A possibilidade de um novo tratamento surge agora, justamente para esse tipo da doença. Na Conferência Anual da Organização Britânica Diabetes, na Escócia, cientistas indicaram que a rã aquática da espécie Pseudis paradoxa, encontrada no Brasil, no Pantanal mato-grossense, tem substâncias em seu organismo que podem ser um dos avanços para o controle do mal. No ano passado, a mesma cúpula científica européia deu o aval para a criação de um medicamento à base da saliva de um lagarto venenoso. O resultado empolgou: 1,4 mil pessoas testaram a droga e apresentaram redução no nível médio de açúcar no sangue.

A rã em questão ganhou o apelido de “paradoxal” entre os pesquisadores. Motivo: em sua etapa de girino ela chega a medir 27 centímetros, enquanto na fase adulta o seu tamanho é reduzido em até quatro centímetros. “A estrutura biológica desse animal é fascinante”, diz o pesquisador árabe Yasser Abdel- Wahab. As secreções dessa espécie de rã, que, tudo leva a crer, podem ser utilizadas para o tratamento da diabete, estão em sua pele e funcionam para protegê-la de infecções. Foi testada então uma versão sintética (chamada pseudin-2) e descobriu- se que ela estimula a secreção de insulina em células do pâncreas.

Segundo Abdel-Wahab, já foram feitas diversas pesquisas com moléculas bioativas de secreções de anfíbios, sendo que a mais recente saiu de laboratórios alemães para a indústria farmacêutica. É o caso do medicamento desenvolvido à base de saliva do lagarto chamado “Monstro de Gila” (vive no deserto do México), um dos poucos venenosos que ainda existem na natureza. Um de seus hormônios se comporta de forma semelhante ao hormônio GLP-1, vital ao sistema digestivo humano no equilíbrio do fluxo de glicose no sangue. Com base nessa descoberta, duas empresas farmacêuticas, a Amylin Pharmaceuticals e a Eli Lilly, desenvolveram versões sintéticas desse hormônio – elas se chamam Exenatide. Os testes mostraram que a droga melhora a capacidade das células de liberar insulina.