Aos olhos da banca de investidores internacionais, o Brasil tem hoje todas as condições para atrair investimentos. A dívida externa foi paga antecipadamente, os saldos comerciais batem recordes consecutivos e os juros que remuneram as aplicações são os melhores do mundo. Eis aí a razão original para a moeda brasileira estar apresentando valorizações constantes em relação ao dólar. Na manhã da quinta-feira 16, depois do anúncio da Medida Provisória que isentou de Imposto de Renda os recursos estrangeiros aplicados em títulos do governo, a moeda americana despencou 1,03%, chegando à cotação de R$ 2,116, com a expectativa de uma forte entrada de dólares. Foi a menor diferença entre o real e a moeda americana desde março de 2001. Para esta semana, o mercado financeiro já projeta um dólar a R$ 2,10. Mas atenção: a valorização do real não vai parar por aí. “Vamos romper facilmente os R$ 2,10. Depois, R$ 2 e, em seguida, R$ 1,80”, diz Alex Agostini, da agência Austin Rating. “Se não há teto para os juros, não há piso para o câmbio.”

Agora, a questão é: interessa ao Brasil um real tão forte? Apesar das pressões dos exportadores, sim. Interessa. Dólar mais barato significa custo mais baixo para insumos, o que ajuda a manter a inflação sob controle e mais facilidade para importar máquinas e equipamentos para a expansão da produção. Os sinais de que o real vai continuar se valorizando vêm de todos os lados. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, tem recomendado aos investidores colocar recursos em países emergentes. Com a previsão de novas entradas da moeda americana, a dúvida do mercado é saber até onde a cotação pode chegar. “Não tem limite”, afirma Pedro Paulo Bartomei, da consultoria Global Invest. A julgar pelas constantes quedas do risco-país – que, na prática, hoje pode ser medido em zero, tal a confiança externa na economia –, o dólar vai despencar. Quanto às pressões dos exportadores, elas contam pouco. Mesmo com o dólar baixo, afinal, o Brasil bate todos os meses recordes em sua balança comercial.