Há enormes razões para se caminhar
pela Champs-Elysées, ainda que o frio parisiense não dê trégua. A cidade
continua uma festa, como disse certa vez Ernest Hemingway, antes de se encantar pelo calor e pelo rum cubanos. A ordem é apertar o passo com seu fino scarpin e seguir firme na direção do novo templo não só do luxo, mas das artes, instalado na mais famosa avenida francesa. A novidade atende pelo nome de Espace Culturel Louis Vuitton e ocupa o elegantérrimo sétimo andar da nova loja-modelo da marca de acessórios. Não custa reiterar, a Moet Henessy Louis Vuitton ou a LVMH é o maior conglomerado de grifes do mundo e fatura 12 bilhões de euros por ano. O importante é que produz e vende jóias, roupas, perfumes, relógios e, principalmente, bolsas – desejadas por quem tem um mínimo de bom gosto e ambição. E é nesse novo prédio que a LVMH resolve a equação que hoje inflama filósofos contemporâneos: luxo pode ser arte? No caso da Louis Vuitton, pode. O espaço arrebata por misturar bolsas que custam milhares de euros com o que há de mais ousado e impactante e na arte contemporânea.

A exposição de estréia do novo espaço contou com trabalhos da artista americana mais badalada do momento, a vanguardista Vanessa Beecroft, que tem, paradoxalmente, pouco apego a vestimentas. Ela sabe quem freqüenta bienais de arte e ganhou notoriedade ao usar o corpo humano como principal matéria-prima para as suas obras.

Na sua exposição, fotos de mulheres negras e brancas nuas – e usando perucas de palhaço – compunham sugestivamente o famoso e cobiçado LV, sigla da grife. Outra obra curiosa foi um quadro vivo de mulheres seminuas, que, distribuídas em uma vitrine, pareciam mercadorias da própria loja. As ousadias da grife não param por aí. Não por acaso, hoje a LV ostenta Gisele Bündchen como sua garota-propaganda. Os franceses sabem o que é bom.