Nas voltas que a vida dá, José Genoino está de novo no começo. Ele se prepara para reviver seus tempos de professor, a atividade que exercia antes de se tornar político, virar presidente do PT e renunciar ao cargo sob o peso dos US$ 100 mil escondidos na cueca de um assessor de seu irmão. Contratado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Genoino vai ministrar um curso sobre o Brasil pós-1964 para 40 dirigentes. O curso vai ser longo e, talvez, estafante. O professor planejou 12 aulas, de oito horas cada uma, que começam em 4 de março e se estendem por seis meses. “A matéria pode ser chamada história contemporânea”, diz Genoino aos amigos que lhe perguntam sobre o tema. As aulas podem ser a melhor oportunidade para o ex-presidente petista retomar uma vida pública normal. “Em 500 páginas de inquérito policial, não há nenhuma prova sobre o envolvimento dele com os dólares na cueca”, afirma o advogado de Genoino, Luiz Fernando Pacheco. “Seu sigilio bancário foi quebrado há oito meses e não se encontrou nenhum depósito suspeito, nada.”

O ex-líder petista está em boa forma para ensinar aos sindicalistas. Neste período de sete meses de hibernação política, transformou o quarto de empregada da casa em que vive no bairro do Butantã, em São Paulo, em biblioteca e escritório. Ali, lê filosofia política e avalia convites. Aceitou, por exemplo, o que foi feito pelos banqueiros do Itaú-BBA, para uma palestra sobre o momento do País. Recusou, no entanto, o chamado para a festa de 26 anos do PT (leia reportagem à pág. 28). Duas semanas atrás, foi à casa de um amigo comum almoçar com o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, dois companheiros de infortúnio. O próprio Genoino ainda não vê motivos para voltar a falar como o político sangüíneo que é. “Agora sou um cidadão comum, que vai à feira e ao cinema como outro qualquer”, define-se. Porém, ele vai sendo cada vez mais instado a tentar recuperar sua cadeira de deputado federal nas próximas eleições. As repercussões que seu curso no sindicato certamente irão acarretar servirão de termômetro para Genoino medir a temperatura para uma volta à política partidária. O principal fator, entretanto, será o relatório da CPI dos Correios, prometido para abril. O ex-presidente do PT foi o avalista de empréstimos totais de R$ 5,4 milhões para o partido, tomados pelo ex-tesoureiro Delúbio. Em sua defesa, alega que os empréstimos nada têm a ver com a prática de caixa 2. Tanto que, defende-se, ele está sendo executado na Justiça pelos bancos Rural e BMG para que pague a conta. Se a CPI inocentá-lo, o professor se sentirá livre para dar as costas ao quadro-negro e voltar a buscar votos.