A um passo de decidir seu caminho, o principal articulador político do Palácio do Planalto começa
a mexer os cordéis. Jaques Wagner, o ministro
da Articulação Política chamado pelo presidente
Lula de “pacificador”, pediu na semana passada
a seu marqueteiro pessoal que deixasse Belém,
no Pará, para se estabelecer imediatamente
em Salvador. Ao mesmo tempo, reforçou toda
a sua agenda carnavalesca na capital baiana,
onde terá, certamente, encontros públicos
com a cantora Daniela Mercury e fará entradas estratégicas no sempre concorrido camarote do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Fez questão
de deixar, também, escadas abertas para subir em trios elétricos das mais altas potências, para ver e ser visto pelo público. Wagner, confidente e, em momentos de crise, guia dos passos políticos do presidente, tem em mãos uma pesquisa eleitoral na qual seu nome aparece apenas sete pontos porcentuais atrás do governador Paulo Souto. A informação chegou a ele há menos de um mês e tornou-se a peça que faltava na montagem de seu plano pessoal para 2006. Sim, apesar de ainda não admitir publicamente, Jaques Wagner está afivelando as malas para deixar seu cargo no governo rumo à condição de candidato do poder central ao governo da Bahia. “Lula precisa de um palanque forte no quarto maior colégio eleitoral do Brasil”, disse o ministro a ISTOÉ, evitando citar seu próprio nome como a tradução para “palanque forte”.

Uma suave dubiedade parece ser o traço mais marcante do modo Jaques Wagner de fazer política. Ex-líder sindical e militante do PCdoB que viveu clandestino e teve que abandonar o último ano de engenharia para fugir da repressão, hoje ele pendurou o macacão ideológico em seu armário no governo. “Não é necessário ser de esquerda ou de direita para ser o melhor administrador”, acredita. Da luta sindical, porém, ficou o gosto pelas massas – agora, da cozinha italiana. Carioca de nascimento, virou baiano por adoção. Judeu por ascendência, recebe de bom grado os fluidos dos orixás. Guarda uma imagem de Iemanjá na estante e outra do protetor Oxalá em sua mesa de trabalho, no estratégico quarto andar do Palácio do Planalto. No pulso direito, uma fitinha de Santo Amaro da Purificação. Seu santo forte protetor é Lula, que ele decifra com a sabedoria dos íntimos: “Quanto mais demora para se definir, mais Lula é candidato, porque não dá tempo para criar uma alternativa.” Uma fórmula, de resto, que serve para ele próprio em seu sonho de desforrar a derrota para Souto, ocorrida nas eleições de 2002.

Este ano, as nuvens da política parecem desenhar um sorriso no horizonte do ministro. Fundador do PT baiano, amigo de Lula há quase 30 anos, recebeu dele o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e, depois, o abacaxi sindical do Ministério do Trabalho. Agindo com discrição, emergiu coordenador político diante do naufrágio do “capitão” José Dirceu e da escapada de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara. No papel de articulador, reconstruiu pontes com os partidos aliados que tiveram seus líderes corroídos pelo mensalão e retomou a iniciativa do jogo, ao tempo em que Lula recuperava fôlego nas pesquisas. “Hoje, enfrentamos três CPIs em Brasília e nenhuma CPI funciona nos Estados governados por tucanos”, festeja Wagner, que, é importante lembrar, saiu ileso em meio a todos os escândalos.