Em famiglia, o PT comemorou na noite da segunda-feira 13 seus 26 anos de vida. Nas mais de seis horas de festa à meia-luz, som alto e bebida farta no salão da Associação Atlética do Banco do Brasil, em Brasília, lá estava o que o partido tem de melhor. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, cuja mulher foi flagrada na boca do caixa do Banco Rural fazendo um saque de R$ 50 mil do valerioduto, flanava entre as mesas. Numa delas, o professor Luizinho, deputado que teve um assessor apanhado com R$ 20 mil da mesma fonte, parecia eufórico pela data. Foi ele quem puxou o coro de saudação à entrada do presidente Lula no recinto. “Um, dois, três, é Lula outra vez”, bradava, uísque Red Label ao alcance da mão. Também era só sorrisos o ex-relator da CPI do Banestado José Mentor, dono do escritório de advocacia que recebeu R$ 220 mil do esquema de corrupção do publicitário Marcos Valério.

O trio Joãozinho, Luizinho e Zezinho pode ser cassado pela Câmara, mas aquela
não era hora de ligar para essas coisas. Afinal, junto a eles igualmente desfrutava
da festa o mineiro Paulo Rocha, que renunciou ao mandato de deputado pelo
partido depois que seus assessores foram descobertos com R$ 920 mil do valerioduto. E, acima de tudo, todos estavam abrigados pelas palavras de conforto
do próprio Lula. “Errar é humano”, discursou o presidente, o mais aplaudido da noitada. “Não devemos execrar quem errou. Quando cometemos erros, pedir desculpas é grandeza.” Não à toa, o encontro festivo ganhou a alcunha de “A Volta Por Cima”. Para quem não é da famiglia, mereceu outro nome. “Foi a festa da impunidade”, definiu o senador Arthur Virgílio Neto, do PSDB. “O PT sempre nos surpreende para o pior.”

O regabofe petista envolveu, como se tornou praxe no partido, bastante dinheiro. Os convites para o jantar, que teve como pratos fortes medalhão de filé e risoto de camarão, custaram entre R$ 200 e R$ 5 mil. Tudo para ajudar a cobrir o rombo de R$ 50 milhões na contabilidade partidária. Com 1,2 mil pessoas presentes, o tesoureiro Paulo Ferreira afirmou que a meta de arrecadar R$ 1 milhão foi atingida. Nove ministros compareceram. A maioria deles, solidários, pagou acima de R$ 1 mil por suas entradas. Lula não gastou nada, e ainda foi saudado pelo vice-presidente José Alencar, do PMR, que subiu ao palanque para mostrar que está de volta às boas com a legenda. “O PT é o próprio partido do Brasil”, disse Alencar, em alta para concorrer à reeleição ao lado de Lula.

Rasgadas as sedas, os petistas caíram na dança. As senadoras Ideli Salvatti (ES) e Ana Júlia (PA), abraçadas à ex-senadora Emília Fernandes (RS), formaram uma das rodas mais animadas. À uma da manhã, depois da saída de Lula e dona Marisa, os petistas voltaram aos lares. No dia seguinte, o senador Pedro Simon, do PMDB, mostrou que a ressaca ameaça ser forte. “Se o País mantiver as impunidades, poderemos ter uma crise institucional de conseqüências imprevisíveis”, alertou. Inebriados, os petistas fazem outra conta. “O que importa é a reeleição do presidente Lula”, adiantara, na festança, o presidente petista Ricardo Berzoini, para quem a crise está superada. Os brasileiros que assistiram ao desfilar de corrupção dos últimos meses podem não pensar assim.