Da executiva à operária, as mulheres globalizadas enfrentam um dilema comum: dividir o tempo entre a casa, o trabalho, o marido e os filhos. Este desafio, tão difícil quanto instigante, é colocado diariamente para todas as famílias em todos os lugares. A boa notícia é que, felizmente, há mais vitórias que derrotas nessa batalha de múltiplas frentes. A mulher brasileira atravessou a primeira metade do século XX em casa, com as crianças, tendo o marido como provedor. No sopro libertário dos anos 60, passou a mão na bolsa e foi para a rua abrir espaço no mercado de trabalho.

Hoje, numa espécie de terceira onda desse movimento, as mulheres estão prestes a alcançar, em número, os homens na população economicamente ativa do País. Já dá para dizer que serão a força motriz da produção. Em outras palavras: o Brasil, para andar, daqui a pouco vai precisar mais delas do que deles. E não é só. Em muitos setores determinantes da sociedade, são elas que combinam suavidade e determinação para comandar destinos e definir trajetórias. Pois essas locomotivas da terceira onda descobriram que, para realizar bem todas as funções, precisam montar um projeto familiar baseado em dois pilares: planejamento da rotina e auxílio direto do marido no lar, na divisão de atribuições. “O uso criativo do tempo pode ser revolucionário no equilíbrio familiar”, afirma a psicanalista Maria Tereza Maldonado, que acaba de lançar o livro Cá entre nós – na intimidade das famílias (Integrare).

A executiva Maria Helena Valio Icó, 40 anos, representante para a América Latina de um grupo austríaco de investimentos, é um exemplo das mulheres que atingiram este estado de equilíbrio. Para isso, contou com o apoio incondicional do marido, o empresário Marcos, 45. Ela faz malabarismos na agenda para participar do dia-a-dia do filho, Rafael, quatro anos. “Levo-o à escola e às vezes dou uma escapada para buscá-lo”, conta. Maria Helena viaja muito para o Exterior – 20 vezes no ano passado. A saída é organização. “Nas viagens curtas, vou nos primeiros vôos, volto e janto em casa. Nas longas, racionalizo o tempo. Em outras, vamos todos juntos ou apenas eu e Marcos”, relata. Em casa, ela valoriza o toque pessoal: compra flores no fim de semana e prepara apuradamente a mesa do almoço de domingo. A administradora de empresas Cléo Molnar, 28 anos, também conta com a atenção firme do marido. “Eu e o Renato planejamos e fazemos tudo juntos: desde o passeio de domingo com o bebê até as oportunidades e condições de emprego”, diz. A troca de idéias com o marido levou-a a negociar um horário mais flexível no trabalho para acompanhar o crescimento de Nicolas, um ano.

No Brasil, segundo o IBGE, dos 53,8 milhões de mulheres entre 15 e 44 anos, 18,5 milhões trabalham fora e têm filhos. Atentas a isso, empresas criaram formas de ajudar no desafio da nova família. A Natura possui uma creche para crianças até quatro anos. “Incentivar os vínculos familiares faz parte do nosso projeto de qualidade de vida”, explica Rosângela Brandão, gerente de recursos humanos e mãe de Leonardo, três anos. Não lutar contra a realidade é outro caminho. “Escolhemos uma escola em frente de casa e trabalhamos perto, o que permite nos revezarmos para almoçar com eles”, diz Flanilane Furlan, 31 anos, mãe de Francisco, quatro, e Ana Flora, dois meses.

A tecnologia é mais uma aliada. Alguns berçários, como o do Colégio Magno, de São Paulo, oferecem monitoramento das crianças pela internet. “Outro dia vi minha filha Lisa, de um ano, dando os primeiros passos pelo site da escola”, lembra a empresária Lilian Ramcke, 28 anos. Graças à modernidade, muitas profissionais podem trabalhar em casa. É o caso da chef de cozinha carioca Adriana Mattar, 38 anos, dona do bufê Cooking e mãe de Antonio, dez, João, oito, e Sofia, quatro. Munida de telefone e laptop, entre outros aparatos, ela resolve seus problemas sem sair de casa. “Trabalhar e poder ficar perto das crianças é tudo de bom”, conclui. Uma pesquisa da Ipsos Brasil, feita em nove centros urbanos, mostrou que apenas 30% dos homens brasileiros ainda acham que as mulheres não devem trabalhar fora. Ou seja, a maioria sonha com uma mulher que tenha uma carreira. Isso os leva a valorizar e dar apoio ao trabalho feminino. É o que sente a comissária de bordo Geany Pires, 37 anos, que, mesmo separada do marido, Ricardo, afirma que ele é fundamental para que tudo em casa funcione. Mãe de Raphael, 18 anos, e Phelipe, nove, ela passa vários dias longe, em vôos domésticos e internacionais. “Somos parceiros na educação dos garotos. O pequeno fica bastante com ele. Agora mesmo estão em férias no Nordeste”, conta. Babás, auxiliares, superberçários e todos os outros confortos podem ser muito úteis. Mas nada substitui o compromisso de uma boa parceria.