No sábado 17, os governadores do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), voaram para um périplo europeu com o objetivo de conhecer os trens de alta velocidade da França, Espanha e Alemanha. Estão atrás de um modelo ideal para correr sobre trilhos entre Brasília, Anápolis e Goiânia, segundo eles o principal corredor econômico brasileiro num futuro próximo. “O eixo se deslocará do Rio–São Paulo para cá”, garantiu o secretário de Desenvolvimento Econômico do DF, Rogério Rosso, antes de embarcar na comitiva do chefe, rumo a Madri. A idéia já nasce sob fogo cerrado. “Olha, não sei qual o objetivo desse pessoal, mas não se estimula o desenvolvimento construindo trens-bala por aí”, critica o deputado federal Sigmaringa Seixas (PT-DF).

A vontade de construir um trem-bala no Planalto Central nasceu há seis meses, quase por acaso. Numa reunião de rotina entre Rosso, Roriz, o porta-voz do governo do DF, Paulo Fona, e o secretário de Articulação Institucional, Hélio Doyle, o primeiro fazia um relato sobre o potencial econômico do eixo Brasília–Goiânia quando Roriz se animou: “Que tal um trem-bala nesse trecho?”. Os assessores o encorajaram e Roriz telefonou a Perillo, contando-lhe da idéia. Os dois se encontraram dias depois e, em agosto do ano passado, tornaram a pretensão pública em discursos na feira agropecuária de Brasília. “O trem-bala é um ícone. A simples idéia de que vá ser construído já fará com que empresários invistam no eixo”, argumenta Perillo. Do lado brasiliense, a obra é comparada às da ponte Rio–Niterói, da hidrelétrica de Itaipu e da própria construção da capital. “Era tudo sonho; hoje o País não vive sem elas”, exagera Rosso.

Ainda há muito pouco sobre o projeto do trem-bala do Planalto. Na semana passada, um estudo preliminar foi encomendado à consultoria TC/BR, para ser mostrado aos grupos europeus durante a viagem dos governadores. Ele ficou pronto na noite da quinta-feira 15. Contém indicativos de onde correrão os pouco mais de 200 quilômetros de trilhos, dados socioeconômicos das três cidades e algumas características dos trens rápidos pelo mundo. As perguntas, por enquanto, se sobrepõem às respostas. Quem financiará o US$ 1 bilhão em investimentos iniciais previstos, quem explorará a linha, há demanda suficiente para remunerar tamanho desembolso?

O governo federal respondeu pelo menos uma das questões: segundo o diretor-executivo da Valec, estatal ligada ao Ministério dos Transportes, responsável pela construção de trens, se Perillo e Roriz conseguirem capital privado para pelo menos começar a obra, tudo bem, a concessão virá sem problemas. Mas não sairá um tostão do Tesouro Nacional para trens de passageiros. O consultor Josef Barat, ex-secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro e considerado o maior especialista brasileiro em ferrovias, lembra que já existe um estudo de viabilidade econômica de um trem de grande velocidade pronto desde 1997. Ele foi financiado pelo governo alemão e levantou possibilidades sobre uma linha ligando Campinas, São José dos Campos, São Paulo e Rio de Janeiro. “É um eixo consolidado, bem mais rico e populoso, e até hoje não saiu do papel”, informa Barat, descrente na idéia dos governadores.