Os designers brasileiros resolveram injetar exuberância nas jóias com motivos religiosos. Agora elas estão extragrandes, com muito ouro, cravejadas com gemas finas, quase teatrais. Algumas tendem para o neobarroco, outras exibem linhas mais limpas, mas quase todas exalam muito luxo e ostentação. A tendência para o uso dessas peças devocionais, que têm sido feitas com símbolos de várias denominações, explodiu na última Feira Nacional da Indústria de Jóias, Relógios e Afins (Feninjer), a mais importante do setor na América Latina.

Vários fabricantes, entre os mais importantes do País, ofereceram suas leituras para esse gênero, que sempre teve muitos aficionados. O que mudou é que antes a religiosidade era mostrada por meio de medalhinhas tímidas, muitas vezes escondidas sob a roupa. Agora elas estão bem mais abusadas.

“Essa estética rejuvenesce, pois é uma devoção com ostentação e até um certo humor”, diz Regina Machado, consultora de estilo. “É bem o contrário dos santinhos com alfinete no sutiã que as vovós usavam”, compara. A empresa Gênesis, de São Paulo, é uma das pioneiras. “Temos ótima repercussão porque resgatamos ícones religiosos e demos tratamento de joalheria de classe a eles”, diz o artista plástico César Aleandri. Para fazer a nova coleção, o designer esteve em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga, onde estão os melhores exemplares da joalheria devocional portuguesa. “Buscamos inspiração e fizemos uma reinterpretação”, avisa Aleandri, que também teve o apoio de um escultor barroco.

Alguns aliam a prática religiosa ao ofício de joalheiro. Caso da designer Carla Amorim, de Brasília, católica fervorosa, que freqüenta missas inclusive no meio da semana. A artista sempre reserva parte de sua coleção para os motivos religiosos. A atual, Sagrado, é totalmente voltada ao tema. “Eu pratico, gosto, tenho enorme prazer em fazer”, diz Carla, que pede para suas clientes benzerem as peças antes de usá-las. Assim como Carla, Lídice Caldas, do Rio de Janeiro, está sempre usando uma de suas jóias com motivos religiosos. São santos, anjos da guarda, invocações de Nossa Senhora, Espírito Santo e o Cristo Redentor, seu lançamento mais recente, da Coleção Sete Maravilhas. “Acredito na força deles.”

Essa retórica religiosa está na vanguarda da joalheria brasileira, diz Regina Machado. “As peças têm uma identidade própria, com um tom de latinidade que é só nosso”, arremata. Ela também dá outra explicação para os adornos terem caído nas graças dos consumidores – o que chama de álibi moral religioso. “Funciona assim: nada é pouco para o santo, então a jóia pode ser grande e bonita que ele não sente culpa”, analisa. Um conselho para quem aderir: quanto mais exuberante for a peça, mais simples deve ser a roupa. Algo como jeans e camiseta, no melhor estilo high-low, ou hi-lo, como se convencionou chamar, no universo da moda, o paradoxo entre os opostos.

 

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