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EPÍLOGO O senador Ted, caçula do clã, foi vencido pelo câncer aos 77 anos

Um capítulo da história política dos Estados Unidos acaba de se fechar. Edward Moore Kennedy, caçula de nove filhos do clã denominado por alguns como a "família real americana", faleceu aos 77 anos na terça-feira 25, em Hyannis Port, no Estado de Massachusetts. Ted era o último membro da dinastia Kennedy no poder. Morreu em sua casa, cercado pela família e amigos, vítima de um câncer cerebral, diagnosticado em 2008. O senador era amado por muitos e reconhecido como o Kennedy mais influente na política, tendo ocupado o cargo no Senado por 47 anos. A família constituída por Joseph e Rose Kennedy foi marcada por um ciclo de glórias políticas, mas também pela dor e tristeza de muitas tragédias.

Desde a juventude, porém, Ted parecia estar alheio ao destino do clã. Seu comportamento era de um autêntico playboy. Ninguém diria, naquela época, que ele seria uma das vozes progressistas mais combativas do país, a ponto de ganhar o apelido de "leão do Senado". Seu campo preferido de atuação política era o dos direitos civis e da saúde. Sua luta era pela universalização do atendimento e maior participação do Estado para ampliar a gratuidade do serviço hospitalar. Sua morte ocorreu no momento em que o presidente Barack Obama tenta encontrar uma solução para incluir no sistema público cerca de 47 milhões de americanos que vivem sem nenhum tipo de cobertura de seguro-saúde.

"Eu sempre fui um dos beneficiados por tê-lo como conselheiro", disse Obama, cuja indicação como candidato do Partido Democrata, em 2008, teve em Ted um articulador decisivo no momento de embate com sua então concorrente Hillary Clinton. "Nosso país perdeu um grande líder que restaurou a chama de seus irmãos mortos para se tornar o maior senador americano de nosso tempo", afirmou Obama. O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, disse que Ted "era admirado como o senador dos senadores e que todos os continentes estão de luto."

Desde 1962 quando chegou ao Senado – percorrendo o mandato de dez presidentes -, Ted abraçou as causas das minorias e esteve do lado oposto dos lobbies mais poderosos do país, como o dos armamentos. Denunciou a falácia da guerra do Vietnã, lutou pela proibição de venda de armas para o ditador chileno Augusto Pinochet, impôs sanções à África do Sul na época do apartheid, trabalhou pela paz na Irlanda do Norte e votou contra a guerra do Iraque. "Era uma guerra errada num momento errado", justificou Ted. Em 2001, saiu em defesa dos muçulmanos, discriminados após os atentados do World Trade Center, e defendeu o diálogo com os países árabes. Idealista e ao mesmo tempo pragmático, Ted sempre foi elogiado por sua capacidade de forjar alianças com rivais.

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JFK ANTECEDEU O IRMÃO MAIS NOVO NO SENADO ANTES DE CHEGAR À CASA BRANCA

Mas, algumas vezes em sua vida, como um autêntico Kennedy, o senador cruzou o lúgubre destino da família. Carregou o peso de episódios de abuso de álcool e drogas na juventude e, em 1969, honrou o sobrenome ao protagonizar uma tragédia. Num acidente em Chappaquiddick, após sair de uma festa em homenagem ao seu irmão Robert, deixou o carro cair de uma ponte e sua companheira, uma ex-assessora de Robert, Mary Jo Kopechne, morreu afogada. Ted só procurou a polícia no dia seguinte. Tornou-se suspeito de negligenciar ajuda e o fato minou de vez qualquer chance de ele chegar à Casa Branca.

Na Universidade de Harvard, Ted foi o centro de outro escândalo. Foi expulso por pagar para que outro aluno fizesse uma prova em seu lugar. Só foi readmitido depois do serviço militar. Em 1956, graduou-se em ciências políticas. Em 1962, entraria definitivamente para a política ao elegerse senador depois de trabalhar na campanha de John à Presidência. Tornou-se o senador mais jovem do país ao assumir a vaga que antes fora de JFK. O senador tentou ser o candidato a presidente em 1980, mas perdeu a indicação para Jimmy Carter. Teve dois casamentos. De 1958 a 1981, com Joan Bennet, com quem teve três filhos. Em 1992, casou-se com a advogada Victoria Reggie, 22 anos mais jovem.

Foi o único dos quatro irmãos Kennedy que não morreu em uma tragédia. O mais velho, Joseph, na queda de um bombardeiro que pilotava na Segunda Guerra. O presidente John foi assassinado em Dallas, em 1963. Robert foi baleado em Los Angeles, em 1968, após ganhar as primárias na Califórnia para as eleições presidenciais. Já das irmãs, só uma foi vítima da sina: Kathleen, morta em um acidente de avião na França. Rosemary, que morreu em 2005, sofria de retardo mental. No ano seguinte, Patricia morreu em casa. E Eunice morreu, no dia 11, aos 88 anos. Era sogra do governador da Califórnia, o ator Arnold Schwarzenegger. A única irmã viva do clã é Jean, com 81 anos. A segunda geração da família também foi abalada pelas mortes repentinas. Uma delas a do sobrinho, John Kennedy Jr, o John-John, em um acidente com seu avião na costa de Massachusetts em 1999, com a mulher, Carolyn, e a cunhada Lauren.

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FOTOS: SHAWN THEW/EFE; AFP PHOTO/HO/JFK LIBRARY; EMMANUEL DUNAND/AFP PHOTO