i138987.jpg

MATISSE HOJE/ Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP/ de 5/9 a 1º/11

Libertário
Incansável inventor de técnicas e modos de pintar, Matisse (1869-1954) marcou o século XX com escândalos e paixões

Quem vê Henri Matisse retratado por Henri Cartier-Bresson, Man Ray e outros grandes fotógrafos, não diz que ele foi o pintor da luz, dos contrastes e da paleta de cores fortes, que escandalizaram os salões do começo do século passado. O semblante grave não exprime o real talento deste que está entre os maiores pintores do século XX: a expressividade.

i138988.jpg

MEDITERRÂNEO A proximidade com o mar está em toda a obra

Em sua primeira exposição retrospectiva no Brasil, "Matisse Hoje", concebida especialmente para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e para o Ano da França no Brasil, o público brasileiro conhecerá os caminhos que o levaram a ser conhecido como o pintor da alegria de viver. A trajetória delineada nesta exposição começa em uma sala de paisagens, entre as quais se encontra a tela "Côte Sauvage, Belle-Île-en-Mer" (1896). A tela é importante porque foi pintada durante uma viagem que Matisse, ainda estudante da Escola de Belas Artes de Paris, fez à costa da Bretanha, onde descobriu a luminosidade das cores primárias.

"Voltei para Paris livre da influência do Louvre", escreveria ele, comemorando a superação da paleta de cores dos mestres antigos. O espírito da "costa selvagem" da Bretanha se desdobraria em pinturas sucessivamente rejeitadas em salões de arte. O tratamento indiferenciado entre fundo e figura e a deformação das anatomias em manchas de cores chapadas – atitudes nunca antes vistas na história da arte – levaram-no a uma pintura considerada turbulenta e lhe renderiam o titulo de "fauve" (fera) pelo critico de arte Louis Vauxcelles.

Infelizmente, a mostra "Matisse Hoje" não contempla o período do fauvismo. "Não vejo agressividade no fauvismo, vejo sim uma liberdade que realmente influenciou toda a produção posterior", diz Emilie Ovaere, curadora adjunta do Museé Matisse, em Le Cateau-Cambrésis, na França. Agressivas ou não, é certo que as primeiras obras tiveram uma recepção hostil que, aos poucos, se dissipou.

Passados os anos "fauves", o que era turbulência virou alegria e a obra de Matisse passou a ser associada a um elogio à beleza, ao deleite visual, à aparência. O próprio artista escreveria que "expressão e decoração são uma só coisa". Não raro, foi criticado por nunca ter se referido às tragédias do século.

A explosão do elemento sensual e decorativo – ao qual seria sempre fiel – aconteceria ao mudar-se para Nice, nos anos 20, e dedicar-se a pintar o Mediterrâneo, suas mulheres, sua cultura visual: ele pintou uma horda de odaliscas, representadas na mostra por exemplar único, "Odalisque à la Culotte Rouge" (1921).

"Nas odaliscas, ele peca pelo excesso na utilização do elemento decorativo", opina a curadora Emilie, que, interessada na influência do pintor nas novas gerações, agregou trabalhos de cinco artistas contemporâneos franceses à exposição com 80 obras de Matisse. "Em diálogo com as suas odaliscas, há qualquer coisa de exagerado na obra de Phillipe Richard, beirando o mau gosto", diz a curadora.

i138989.jpg

PAPEL RECORTADO Matisse criou essa técnica no final da vida

De qualidade irregular, os trabalhos contemporâneos estão instalados frente a frente com Matisse, em uma atitude curatorial bastante ousada. "Reconheço que colocá-lo diante da arte contemporânea é pouco ortodoxo. Mas Matisse já foi exaustivamente exibido de maneira clássica. Acho que o público está pronto para isso." Ousado mesmo é Emilie considerar que o público brasileiro, em seu primeiro contato com a obra do mestre francês, poderá assimilar a inovação. Isso sim é que é "fauve".

 i138991.jpg

SAIBA MAIS
Tema e variações

i138992.jpg