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AMBIENTE Uma das recomendações da terapia é a de que os pacientes mantenham maior contato com a natureza e se exponham mais ao sol

A abordagem convencional no tratamento da depressão é bem conhecida. Ela combina o uso de drogas com a terapia cognitivo-comportamental, método que ensina o paciente a evitar situações que desencadeiam crises. Mas estudos recentes têm apontado novos caminhos cujo objetivo é reduzir o uso de remédios. Quanto menos forem necessários, melhor. Dessa forma, diminui o risco de efeitos colaterais – que vão de ganho de peso até elevação da tendência ao suicídio.

Uma das alternativas mais interessantes foi criada pelo psicólogo Stephen Ilardi, da Universidade do Kansas (EUA). Ele desenvolveu um método no qual propõe que os pacientes retomem um estilo de vida mais simples, que remeta ao jeito primitivo de viver experimentado por nossos ancestrais. Por isso, a técnica foi batizada de "terapia das cavernas". Ela se baseia na adoção de seis metas: tomar sol diariamente, fazer atividade física, ter mais contato com amigos e familiares, dormir bem, incluir alimentos como salmão e sardinha, ricos em ômega 3 (a substância ajuda o funcionamento dos neurônios), e deixar de remoer preocupações. No lugar disso, manter a mente ocupada, seja lendo um livro, seja ouvindo uma música alegre, por exemplo.

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MOVIMENTO Exercícios criados por Janette auxiliam os doentes a se manter em uma postura mais ereta

A essência do método foi apresentada no livro "The Depression Cure", recém-lançado nos EUA. É claro que a proposta gera polêmica. Afinal, parece simples demais para o enfrentamento de uma doença complexa, em cuja raiz está a associação de fatores ambientais, genéticos e comportamentais com um desequilíbrio na concentração de determinadas substâncias cerebrais. Mas Ilardi garante que a terapia é efetiva. "Vários pacientes se recuperaram", disse à ISTOÉ. "E não usam mais remédios." Na avaliação do psicólogo, o segredo do sucesso residiria no fato de que o retorno a uma vida mais simples traria maior conforto emocional.

No Brasil, a novidade é uma técnica cujo objetivo é mudar a postura corporal dos pacientes. Ela foi criada pela fisioterapeuta Janette Canales, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/ SP). Em sua tese de mestrado, ela constatou que os doentes apresentam alterações posturais como a flexão de cabeça (olhar voltado para baixo). "Com os exercícios, os pacientes adotam uma postura mais ereta e firme", explica Janette. "Isso já os encoraja a enfrentar os problemas."

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RESULTADO Ilardi garante que o novo método é eficaz

Há um esforço também para modificar características de personalidade que agravam a doença. O primeiro passo para isso, obviamente, é identificar essas marcas. Um estudo da Universidade de Ohio (EUA) deu uma pista importante. Segundo a pesquisa, pessoas deprimidas têm dificuldade para apreciar experiências positivas e guardar boas memórias. "Também há uma tendência de lembrar mais das experiências negativas", afirma Daniel Strunk, coautor do estudo.

A ciência conseguiu ainda dar uma nova roupagem à terapia cognitivo-comportamental. Sessões do método estão sendo feitas pela internet, o que amplia o acesso ao recurso. Em um trabalho publicado na última edição da revista científica "The Lancet", pesquisadores comprovaram o poder da versão. Realizado na Universidade de Bristol, na Inglaterra, o estudo constatou que o índice de recuperação de pacientes medicados e submetidos à terapia virtual foi superior ao obtido entre os que receberam antidepressivo e fizeram as sessões tradicionais.

O surgimento de opções como essas entusiasma os médicos, mas, ao mesmo tempo, exige cuidados. "Muitas opções são úteis para melhorar sintomas apenas de forma parcial ou passageira", diz o psiquiatra Ricardo Moreno, do HC/SP. Por isso, é importante saber para quem as novas terapias funcionam e quando de fato podem ser usadas sozinhas, sem remédios, ou associadas a baixas doses de medicação. Para a psiquiatra Rita Jardim, do Rio de Janeiro, elas podem beneficiar casos em que não há indicação medicamentosa. "Há pacientes, por exemplo, em que a depressão está relacionada à dificuldade de lidar com problemas e não necessariamente a alterações bioquímicas", afirma.

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