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EU E MEU CARRO Renata Sevela diz que muitas pessoas acham seu New Beetle frágil João Loes e submisso

Escolher um carro não é tarefa fácil. Hoje, no Brasil, 59 marcas nacionais e importadas vendem uma infinidade de modelos para todos os gostos e bolsos. E são muitas as variáveis que influenciam a escolha final. Mas engana-se quem pensa que só motorização, autonomia, conforto ou preço pesam na hora da decisão. Um estudo capitaneado pela Universidade de Viena, na Áustria, mostrou que, mesmo inconscientemente, atribuímos características humanas aos automóveis e criamos personalidades para eles de acordo com o seu design. Isso influencia nossa escolha, já que o carro será nosso representante físico em uma atividade que ocupa cada vez mais horas dos nossos dias: o trânsito. A pesquisa mostrou ainda que a personalidade dos veículos se encaixa em duas grandes categorias – de um lado, os poderosos e imponentes, e, do outro, os simpáticos e alegres (leia quadro ao lado). “Não sabemos até que ponto a personalidade do carro pode ser estendida ao seu dono”, disse Karl Grammer, antropólogo da Universidade de Viena e um dos autores do estudo, à ISTOÉ. “Mas não temos dúvida de que ele é um objeto de comunicação e que alguns elementos de design são determinantes na criação de uma identidade reconhecível.”

O mecanismo de atribuição de personalidade ao carro é relativamente simples. O ser humano tem propensão natural a ver rostos onde eles não existem. Os detalhes da dianteira de um veículo, portanto, são facilmente vinculáveis às feições de uma pessoa. Números do estudo mostram esse efeito de maneira cristalina (leia quadro à pág. 80 ). Dos 38 carros testados na pesquisa, nenhum marcou tantos pontos como automóvel forte e corajoso como o BMW Série 5. Baixo e largo, o modelo alemão tem faróis estreitos e em ângulo, entrada de ar rente ao chão e frisos laterais expostos que dão aspecto musculoso à lataria. No outro extremo, esteve o Volkswagen New Beetle – a reedição do tradicional Fusca. Alto, estreito e arredondado, ele foi o simpático da turma com seus faróis ovalados e ausência de frisos laterais. “Independentemente da personalidade, o objetivo dos carros é o mesmo – levar os passageiros de maneira rápida e eficiente de um lugar a outro”, explica Luiz Severiano Dutra, coordenador da pós-graduação em design automobilístico da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec). “Uns preferem usar a simpatia e o charme para circular no caos do trânsito urbano; outros optam pela imponência.”

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FORÇA NA SELVA Salvador Amato diz que todos abrem caminho para o seu BMW Série 5

Quando comprou seu BMW Série 5, há três meses, o médico paulistano Salvador Amato, 58 anos, garante que não estava pensando em impressionar. Ele queria realizar o sonho de ter uma BMW, marca que admirava há muito tempo. De quebra, levou a cara de mau do carro. “Não sou agressivo ao volante, mas sei que o carro às vezes pode assustar”, reconhece. Ele desfia os outros encantos do seu veículo: ao pisar fundo no acelerador, os 372 cavalos de potência do bólido – quase seis vezes a de um carro 1.0 – roncam como um carro de corrida. “Insisto em dar passagem para os outros, mas poucos aceitam. Eles preferem me deixar passar”, diz, confirmando a imponência do BMW apontada pelos pesquisadores austríacos.

Para Renata de Oliveira Sevela, administradora paulistana de 34 anos que tem um New Beetle, as coisas são bem diferentes. Ela está com o carro há cerca de seis meses e já viu o lado bom e o lado ruim de ter um veículo simpático. Moradora de Caieiras, na região metropolitana de São Paulo, ela pega um pequeno trecho de estrada todos os dias para ir trabalhar, na zona leste da cidade. “É comum grudarem na minha traseira”, diz ela, que vê o comportamento como uma forma de intimidação. Para a administradora, muitos acham o carro frágil e submisso. “Mas logo acelero e a intimidação para”, afirma, confiante no motor 2.0 de 116 cavalos do New Beetle. “Existe uma linguagem subjetiva nas relações entre motoristas”, explica Dutra, da Fumec. Para ele, o trânsito é uma arena para as interações sociais. Não o surpreende uma das mais relevantes conclusões do estudo austríaco. Segundo levantamento dos antropólogos de Viena, em última instância, as pessoas preferem carros cada vez maiores e fortes para circular pelas ruas das cidades – mesmo que eles sejam menos práticos e mais poluentes. “É natural que as pessoas prefiram a segurança em um ambiente que, a cada dia, fica mais inóspito”, diz Dutra.

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