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SOLDADINHODO- ARARIPE Categoria de ameaça: criticamente em perigo Hábitat: florestas úmidas às margens dos rios, no Ceará Causas da extinção: ocupação de áreas e mananciais de forma desordenada, desmatamento e uso insustentável dos recursos hídricos

 

 

Pela primeira vez na história, o Brasil, por meio do Ministério do Meio Ambiente, irá publicar um livro documentando as espécies que correm risco de sumir do mapa nacional. Provisoriamente chamada de Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, a obra está sendo preparada por especialistas sob encomenda do órgão federal e deve ficar pronta em maio. Estima-se que há, hoje, 1,8 milhão de espécies no Brasil – das quais apenas 10% são descritas pela ciência. A publicação do Ministério mostrará que há 627 espécies em risco de extinção – 125 delas na categoria “criticamente em perigo”, ou seja, com 90% de chances de desaparecer nos próximos dez ou 20 anos, e que sete já estão extintas.

Esses dados já estavam compilados na lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 2003/2004, mas o novo levantamento trará, pela primeira vez, informações sobre a biologia e a ecologia dos bichos, os fatores de ameaça de cada um deles e as estratégias de conservação. Um trabalho mais detalhado, portanto, mas que não estará disponível para venda. A obra será distribuída em universidades, escolas, bibliotecas, centros de pesquisas e empresas que têm ação direta no meio ambiente.

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MICO-LEÃO-DE-CARA-PRETA Categoria de ameaça: criticamente em perigo Hábitat: Mata Atlântica Causas da extinção: caça ilegal e redução de hábitat

 

Responsável por cerca de 20% da biodiversidade do planeta, o Brasil não tem uma obra sobre os animais ameaçados de extinção em território nacional. Sob a coordenação de um órgão federal, foram produzidas apenas quatro listas das espécies que correm risco de sumir do ecossistema do País, a primeira em 1968 e as outras em 1973, 1989 e a de 2003/2004. “No passado, as instituições comemoravam um gol ao publicar uma lista com os animais em extinção. Mas gol mesmo é retirar um bicho dessa lista. E o Livro vermelho vai facilitar aos órgãos de fomento avançar no sentido de recuperar as espécies”, explica Lídio Coradin, que coordena as atividades de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente.

Paralelamente ao Livro vermelho, o Ibama, que a cada cinco anos solta uma lista homônima voltada principalmente para a comunidade científica, começou há uma semana a atualização do último estudo, feito em 2003/2004. “A revisão deveria ser feita anualmente, já que a degradação ambiental não demora cinco anos. Em dois meses, na Amazônia, desmata-se com uma voracidade de cinco anos”, reclama o biólogo Adriano Paglia.

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ARIRANHA Categoria de ameaça: vulnerável Hábitat: rios de águas calmas, lagos, pântanos e brejos Causas da extinção: assoreamento e poluição dos rios, caça e destruição das matas

 

Analista de biodiversidade da ONG Conservação Internacional, Adriano é um dos editores do Livro vermelho. Biólogo de formação, ele passou seis anos garimpando informações sobre os bichos em risco de desaparecer no Brasil para sua tese de doutorado em ecologia. Espécies ameaçadas da fauna brasileira: análise dos padrões e dos fatores de ameaça foi defendida com louvor em junho passado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mostrou que 10% dos mamíferos e 9,4% das aves podem sumir do nosso território (leia quadro). “Cerca de 60% dos animais na lista de ameaçados estão na Mata Atlântica (que vai do Ceará ao Rio Grande do Sul e se encontra reduzida a 7% de sua área original). No Cerrado (cujo desmatamento chega a três milhões de hectares por ano, o equivalente a 2,6 campos de futebol por minuto) estão 18% e na Amazônia, menos de 10%. O restante está distribuído entre os outros três biomas (Caatinga, Pantanal e Pampa)”, explica Paglia.

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CACHORRO-DOMATO- VINAGRE Categoria de ameaça: vulnerável Hábitat: Cerrado e florestas úmidas Causas da extinção: redução e fragmentação do hábitat, caça e enfermidades

Coincidentemente, outra obra de fôlego, que aborda este mesmo tema, chegará às livrarias na próxima semana. Trata- se do livro 100 animais ameaçados de extinção no Brasil, resultado de um ano e meio de pesquisas intensas do biólogo Sávio Freire Bruno, professor de medicina de animais silvestres da Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicado pela Ediouro, ele reúne o maior número de imagens de animais nacionais em extinção em uma só obra literária. Nele, não se fala de urso polar do ártico, elefantes da África ou tigres da Índia. Mas de espécies tipicamente brasileiras (como o guigó-de-sergipe e o soldadinho-do-araripe) com risco de desaparecer, as causas e as categorias de ameaça de cada uma delas. “A intenção é dar oportunidade ao brasileiro comum, preocupado com o meio ambiente, de conhecer uma fauna que está a um sopro de desaparecer”, diz Sávio, que se embrenhou camuflado em matas e beira de rios e fotografou 15% das imagens publicadas.

Diferentemente do Brasil, a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) publica todo ano sua lista vermelha de espécies ameaçadas. No ano passado, 16.306 em todo o planeta encontravam-se sob risco. É da IUCN um dado alarmante: de 1500 até os tempos atuais, 700 espécies de animais documentadas desapareceram da Terra. “É um evento de extinção em massa. É quase como a extinção dos dinossauros”, compara o biólogo Paglia.

 

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