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REFAZER
Os budas destruídos pelo Talibã poderão ser recriados virtualmente em 3D a partir do entulho

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Imagine tentar resolver um quebra-cabeça com 350 mil peças espalhadas por 70 lugares no mundo. É esse o trabalho que vem sendo feito pelo Friedberg Genizah Project, sediado em Israel. O esforço é para reunir, pela primeira vez, a Cairo Genizah, uma coleção de raros documentos produzidos entre os séculos IX e XIX com registros do período no Oriente Médio. Quando descoberta, em 1864, a coleção foi retalhada entre seus principais descobridores e hoje suas partes estão em bibliotecas públicas e particulares, universidades, museus e instituições religiosas pelo mundo. Seria impossível reuni-las fisicamente. Digitalmente, porém, a história é outra.

Hoje, a Friedberg Genizah Project trabalha para digitalizar todos esses fragmentos e remontar, virtualmente, os códices originais. “Criamos um software que analisa a letra dos copistas, o espaçamento entre as palavras e as características do papel para casar um fragmento em Nova York com outro em Viena”, diz Roni Shweka, membro da equipe que desenvolveu o programa na Universidade de Tel Aviv, em Israel. Para efeito de comparação, o que estudiosos conseguiram casar em 100 anos de trabalho manual, o software fez em pouco mais de dois meses.

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São muitos os benefícios da unificação de uma coleção tão importante de documentos. Segundo o arqueólogo Rodrigo Pereira da Silva, que já trabalhou em escavações em Israel, na Jordânia, no Sudão e na Espanha a tecnologia é revolucionária. “É a reinvenção do nosso trabalho”, diz Silva. Para pesquisadores como ele, ter uma coleção inteira de documentos em ordem coerente, armazenados em um único lugar e disponíveis em alta resolução não tem preço. “Quando fiz meu doutorado, levei meses para conseguir a autorização para consultar um único documento em uma biblioteca europeia”, conta. E o microfilme no qual o tal documento estava armazenado, além de bastante desgastado, só oferecia o material em preto e branco. Com cores, texturas e detalhes da grafia do copista, o olho treinado de um pesquisador vê muito mais do que está escrito. “É uma diferença brutal”, sintetiza.

 

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Não são só os documentos em texto que se beneficiam desse tipo de tecnologia. Esse tipo de recurso já vem sendo aplicado em outras áreas com o mesmo objetivo: restaurar preciosos objetos que, por alguma razão, foram destruídos e, de quebra, lhes dar vida eterna nem que seja só na memória dos computadores. Na Itália, por exemplo, parte de um afresco de Andrea Mantegna, bombardeado durante a Segunda Guerra Mundial, foi recuperado com a ajuda de um software da mesma família do que está sendo usado em Israel. Já na Alemanha, documentos triturados que registram os últimos momentos da Stasi – a polícia secreta que agiu até outubro de 1990 – foram recuperados por projeto semelhante. Hoje, estuda-se até a possibilidade de recuperação dos famosos Budas destruídos pelo Talibã no Afeganistão, em 2001. Especialistas trabalham para desenvolver um software de escaneamento tridimensional que vai digitalizar o entulho das explosões e remontar os pedaços virtualmente. “Esses programinhas estão viabilizando coisas inimagináveis”, resume Silva.

 

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