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Beija-mão No terreiro do ministro Geddel em Salvador, os políticos fazem fila em busca de oferendas com o dinheiro público

ÀS segundas-feiras pela manhã, a sala de estar de um amplo apartamento no edifício do bairro de Ondina, em Salvador, fica apinhada de líderes políticos do interior baiano. É uma fila de prefeitos, vereadores e deputados. Igualmente abarrotada de lideranças municipais e estaduais é a ante-sala de um confortável gabinete localizado na sede da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), também na capital baiana. Todos aguardam ansiosamente a oportunidade de se aconselhar e pedir a bênção ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB). Nas segundas, se ele não estiver no apartamento de Ondina, estará no escritório da estatal. E pedir a bênção a Geddel tornou-se prática obrigatória de boa parte dos políticos baianos. Desde a morte do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), em julho do ano passado, os dois terreiros onde Geddel despacha todo início de semana servem a rituais que são o inverso do candomblé: ali, os políticos peregrinam em busca de proteção e de um futuro melhor. Mas, em vez de doar, eles recebem as oferendas do novo babalorixá da Bahia: cargos, verbas, projetos, favores e promessas. “Geddel está atropelando todo mundo. Ele está oferecendo muita coisa: tem o amparo do governo federal, espaço importante no governo do Estado e o comando da Prefeitura de Salvador. É muito difícil segurar a debandada”, reconhece o próprio herdeiro natural do carlismo, o líder do DEM na Câmara, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA).

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Ao mesmo tempo que avança sobre os antigos redutos de ACM, o ministro também provoca arrepios em seus novos aliados petistas – em 2006, Geddel uniu-se ao PT para eleger Jaques Wagner governador da Bahia e foi em troca desse apoio que ele, de antigo desafeto de Lula, passou a ser o titular da Integração. Nos bastidores, o ministro tem trabalhado para que o PT não lance candidato à Prefeitura de Salvador nas eleições municipais de outubro. Sobre o tema, já conversou inclusive com Jaques Wagner. Tudo para deixar o caminho livre para a reeleição do prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), sobre quem tem ascendência. “Acredito que o Wagner vai trabalhar para que o PT não lance candidato. O nome natural é o João Henrique e, na hora certa, tenho certeza de que o governador vai ajudar a preservar a aliança”, tem dito Geddel. O problema é que o PT tem um nome, o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), e não quer abrir mão de se lançar à disputa em Salvador logo agora que controla o governo do Estado. “A vontade do partido é ter candidatura própria em Salvador. O Geddel sabe que a natureza dessa aliança permite a disputa e vai ter que entender”, pondera Pellegrino. O temor do PT, porém, é que Geddel não entenda. E atropele o partido.

 

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Acuado O governador Jaques Wagner está sendo pressionado a apoiar o candidato de Geddel à Prefeitura de Salvador

A maneira de atuar de Geddel suscita comparações com o velho estilo carlista de fazer política. Parece que o ministro não só herdou aliados, mas também o estilo do velho cacique baiano. O que atemoriza os petistas é que por trás da movimentação de Geddel no tabuleiro da Bahia esteja sua pretensão de se candidatar ao governo do Estado em 2010. Seria o máximo do atropelo, uma vez que a situação natural é Jaques Wagner disputar a reeleição. O alerta chegou aos ouvidos do governador. “Ele vai querer te engolir”, diz um aliado em conversas ao pé do ouvido. O deputado Walter Pinheiro (PTBA), por exemplo, alerta que o PT não deve assistir impassível ao crescimento do peemedebista: “Ele pegou o Ministério e cresceu a partir da política de filiação em massa. Não podemos ficar olhando para o tamanho do Geddel”, disse o deputado, sem nenhuma ironia com o ministro de 1,69 metro e, sinal de que anda comendo bem, cada dia mais redondo. “Não podemos ser medrosos e ficar pensando em 2010 antes de 2008. O mais importante são as eleições deste ano”, diz Walter Pinheiro.

 

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O crescimento de Geddel, que deixa a esquerda baiana perplexa e a direita desorientada, pode ser facilmente medido pelos números. Até 2005, o DEM de ACM controlava 80% dos 417 prefeitos. O PMDB contava apenas com 30 prefeitos. Hoje, o partido, graças a uma filiação em massa capitaneada por Geddel, é a maior agremiação baiana, com cerca de 150 prefeitos e mais de mil vereadores filiados no Estado. “Geddel é um jovem de fácil diálogo que eu conheço desde os tempos do Colégio Marista”, diz o prefeito de Juazeiro, Misael Aguilar, ex-carlista de carteirinha, ao justificar a filiação ao PMDB. Não foram somente prefeitos e vereadores que se filiaram à legenda peemedebista nos últimos meses. Também foram incorporados ao PMDB quatro deputados federais: Marcelo Guimarães Filho (ex-DEM), Colbert Martins e Raimundo Veloso (ex-PPS) e Sérgio Brito (ex-PDT). Em Salvador, além de controlar a prefeitura, o PMDB administra as secretarias de Transporte e Infra-Estrutura, Segurança Pública e Fazenda. No governo estadual, os peemedebistas controlam as secretarias de Infra-Estrutura e da Indústria e Comércio, além de outros órgãos.

Nas eleições municipais deste ano, a intenção, segundo o presidente regional da legenda, Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel, é eleger mais 200 prefeitos. Se conseguir chegar a 350 prefeitos, Geddel se consolida como o principal líder político da capital e do interior do Estado. Para quem passou as últimas décadas criticando os métodos de ACM, transformar-se no principal herdeiro do carlismo no Estado é no mínimo uma grande contradição.

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O IMPÉRIO SE DESFAZ
A candidatura de ACM Neto (DEM-BA) à Prefeitura de Salvador nas eleições municipais de 2008 é encarada como fundamental para a sobrevivência do partido, o DEM, e do carlismo, diante do avanço do PMDB do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Mas o fato é que o grande império deixado por ACM, não só o político como o patrimonial, está ruindo mais rápido do que seus herdeiros imaginavam.

Somente no apagar das luzes de 2007, o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior e o empresário Luís Eduardo Magalhães Filho, o Duquinho, chegaram a um consenso em torno do comando da TV Bahia, retransmissora da Rede Globo, uma das partes mais sensíveis da herança de ACM. ACM Júnior e Duquinho juntos têm 66% das ações da empresa. O entrave era o genro Cesar Matta Pires, que controla cerca de 30% da emissora e queria despolitizar a cobertura dos veículos de comunicação. Apesar do acordo, ainda falta nomear diretores em postos-chave e pessoas ligadas à família dizem que ainda vai demorar um tempo para que os negócios deslanchem novamente.

Já o jornal Correio da Bahia, uma das heranças do império de comunicação de ACM, vendeu o edifício na elegante avenida Paralela e instalou-se na sede da tevê, enquanto a gráfica foi transferida para o município de Lauro de Freitas. Toda a diretoria e os redatores-chefes foram trocados. À frente da empresa, ACM Júnior impôs um diretor de redação de sua confiança e quer adotar uma linha editorial politicamente mais neutra, ao contrário do que ocorria quando seu pai mandava. Só assim, imagina ACM Júnior, a empresa poderá sair do vermelho