Parecia loucura, mas o velejador brasileiro Roberto Pandiani, 44 anos, e seu companheiro de aventura, o sul-africano Duncan Ross, 39, atravessaram com sucesso os 900 quilômetros que separam a ponta da América do Sul e a Antártida, região conhecida como Estreito de Drake. Para realizar a façanha, a dupla contou com o hobie cat Satellite, um veleiro sem cabine com dois cascos paralelos e cerca de seis metros e meio de comprimento.

“A emoção ao chegar é indescritível. Não foi fácil, apesar de termos tido sorte com o tempo”, conta Pandiani. A dupla chegou na ilha vulcânica Deception Island (Ilha da Decepção), destino final, na madrugada do sábado 8, depois de quatro dias de viagem por um dos mares mais temidos do mundo. A decisão de partir de Caleta Martial, uma praia na ilha chilena Hershel, em direção à Antártida só foi tomada depois que a dupla recebeu o sinal verde de dois serviços meteorológicos, um francês e outro americano. “A região tem clima muito instável e não podíamos demorar na travessia”, afirma o velejador brasileiro. As previsões se confirmaram e fez tempo bom durante a aventura, o que significa ventos fracos – entre 18 km/h e 25 km/h de velocidade –, que sopraram a favor.

Isso não impediu que a dupla enfrentasse contratempos. “No primeiro
dia ficamos enjoados e nos revezamos. Enquanto um descansava por duas horas, o outro cuidava do leme”, diz Pandiani. Só no segundo dia eles voltaram a se alimentar normalmente. Para suprir as energias gastas, Pandiani e Ross precisaram ingerir lanches calóricos como chocolates e bacon e refeições que, em contato com a água quente,
se auto-aqueciam. “A comida era ótima”, conta o brasileiro. Segundo
ele, depois de 48 horas a água quente acabou. O Kotic II, um veleiro
de aço que acompanhou a travessia, ofereceu-lhes água, mas a dupla recusou. “Só aceitaríamos ajuda em risco de morte. O objetivo era
fazer uma viagem auto-suficiente.”

O cansaço, conta o velejador brasileiro, foi tanto que ele e seu companheiro de viagem começaram a ter alucinações. “O cansaço é enorme, você não se dá conta e chega ao limite. Tínhamos a sensação de que havia outra pessoa a bordo”, diz.

Apesar de as temperaturas não terem sido tão baixas como o
esperado – durante o dia variam entre 2o C e 10o C –, a dupla sentiu
frio. “À noite fazia algo em torno de 6o C a 8o C, mas, mesmo com uma roupa especial que retirava o suor do corpo e o mantinha aquecido, sentimos frio porque passamos o tempo todo molhados, já que o veleiro não tem cabine”, conta Pandiani.

Nem a fadiga e os contratempos desanimaram a dupla, que pretende agora passar 25 dias explorando a Antártida, fazendo esportes radicais como caminhadas e escaladas. Depois, eles encaram uma viagem de carro até o Rio de Janeiro, onde devem aportar no dia 2 de abril.