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O aventureiro
Um dos últimos exploradores ingleses, Fawcett vestia botas de montaria e tinha um inseparável chapéu Stetson. Nas expedições munia-se de facão, bússola, sonhos e coragem

 

"Nossa rota partirá do Acampamento do Cavalo Morto, 11 graus e 43 minutos sul e 54 graus e 35 minutos oeste, local onde meu cavalo morreu em 1921." Essas palavras estão em um dos últimos manuscritos do coronel britânico Percy Fawcett que chegaram às mãos de seus familiares em Londres. A região que ele descreve minuciosamente no texto corresponde à bacia sul do Amazonas, no Estado de Mato Grosso, e sua extensão é superior ao tamanho dos territórios da França e da Grã-Bretanha somados.

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Foi nessa parte da floresta que Fawcett se embrenhou para tentar descobrir a Cidade Z, suposta civilização que ele acreditava existir escondida nas densas matas. Era o ano de 1925 e essa seria a terceira – e última – expedição de Fawcett ao Brasil. Ele, o seu primogênito, Jack (que sonhava em ser ator de cinema), e o melhor amigo do filho, Raleigh Rimell, ambos com 18 anos, desapareceram nessa rota – os únicos vestígios são uma placa com o nome do coronel (que pode ter sido usada como lápide) e a bússola que lhe pertenceu. Uma das hipóteses é de que eles tenham sido capturados e devorados por índios canibais.

A trajetória do geógrafo e explorador Fawcett, membro da Real Sociedade de Geografia inglesa, é narrada no livro "Z, a Cidade Perdida – A Obsessão Mortal do Coronel Fawcett em Busca do Eldorado Brasileiro" (Companhia das Letras), do autor americano David Grann, que se aventurou na floresta, consultou arquivos da Real Sociedade Geográfica e a correspondência do geógrafo entre 1892 e 1915. "Lá estava um mapa da vida de Fawcett e também da sua morte", escreve Grann, que ainda reproduz outra impressão descrita pelo explorador em 1921: "Há poucas dúvidas de que as florestas cobrem indícios de uma civilização perdida com características insuspeitadas e muito surpreendentes." Ele pagaria com a própria vida, aos 57 anos, pelo seu idealismo. E não seria o único em seu tempo.

No final do século XIX e início do século XX, a sociedade britânica incentivava longas e arriscadas expedições e integrá-las conferia status e fama aos aventureiros. O espírito imperialista que reinava almejava colocar no mapa territórios recônditos do mundo. E não poderia haver maior honraria do que ter o nome incluído no rol dos grandes "geógrafos militantes", como os chamava o escritor Joseph Conrad, autor do clássico "Lord Jim". No Brasil, a empreitada de Fawcett também criou rusgas diplomáticas.

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Na selva
O coronel e geógrafo Fawcett (acima) fotografou trecho da Floresta Amazônica na fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Em Mato Grosso, em 1996, Villas-Bôas encontrou a suposta ossada de Fawcett em uma tribo indígena

O Exército brasileiro, representado pelo marechal Cândido Rondon, declarou na época "não gostar da ideia de um estrangeiro vir aqui para fazer o que nosso país devia fazer por si mesmo". Isso porque Fawcett resistia em levar soldados brasileiros em suas equipes. O desfecho trágico da aventura do inglês, no entanto, atraiu à região outras expedições. Pelo menos duas delas foram capitaneadas por brasileiros. A mais recente, liderada pelo paulista James Lynch, se deu em 2000. A mais importante, porém, coube ao indigenista Orlando Villas-Bôas, que em 1996 pensou ter encontrado os restos mortais de Fawcett numa tribo no Xingu, hipótese que não se confirmou.

 

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FAWCETT NO CINEMA
O ator Brad Pitt interpretará o coronel Fawcett na adaptação do livro para o cinema. O filme será dirigido por James Gray, um dos expoentes da nova geração de cineastas americanos. Quem banca a produção é Brad Pitt