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DOSE DUPLA
Fagundes está em dois monólogos: atua em "Restos" e dirige "Aquela Mulher"

Quem disse que uma peça, para ser boa, precisa ter elenco numeroso? A ideia corrente de que espetáculos com apenas um ator em cena são experiência entediante não sobrevive à rápida consulta às montagens de sucesso que estão em cartaz. Há dezenas de monólogos para todos os gostos e bolsos e boa parte já se aventura em uma nova temporada, respaldada pelas boas bilheterias.

A profusão de apresentações solo na programação atual dos teatros leva a suspeitar de que falta verba para se apostar em criações mais ambiciosas. E a verdade é que falta mesmo: a questão financeira é determinante na existência de tantos monólogos. "A razão é clara", diz a jornalista e atriz Marília Gabriela. "É alto o risco de se ir à falência ao montar e manter um grande espetáculo." Além de ser a única intérprete, Marília é também coprodutora da peça "Aquela Mulher". Devido a essa opção econômica, após meses em cartaz em São Paulo, ela reestreou sua peça no Rio de Janeiro.

Fazer monólogo tem outras vantagens. Ao se resguardar do risco financeiro, pode-se assumir o que se chama de risco artístico. "Se houver um tropeço, não há quem te ampare", diz Marília. Quem assina a direção de seu espetáculo é Antonio Fagundes, que também atua e produz um outro monólogo na capital paulista: "Restos", com texto do autor americano Neil LaBute. Fagundes também reclama do custo: "A bilheteria não cobre a produção de uma peça." Outra intérprete que aderiu a esse formato é Fernanda Montenegro. Segundo ela, essa é hoje a única opção para se fazer um bom teatro no Brasil.

A atriz ficou em cartaz dez anos com a peça "Dona Doida", dirigida por Naum Alves de Souza, e está há quatro meses em cena com o monólogo "Viver sem Tempos Mortos", no qual interpreta a filósofa francesa Simone de Beauvoir. Cerca de 80 mil pessoas já assistiram ao espetáculo, hoje em exibição no Rio de Janeiro.

Com a experiência de tantas direções, Naum Alves de Souza concorda que o monólogo é hoje uma alternativa de baixo custo, mas acha que a onda não se sustenta apenas nessa premissa. Ele é diretor de "Mediano", em sua segunda temporada, espetáculo solo em que o ator Marco Antonio Pâmio alterna-se em 16 personagens. "Estar sozinho em cena é um desafio que todo ator quer enfrentar. E fascina o público quando há uma química entre o prodígio do artista e a qualidade do texto", diz Naum. Essa também pode ser a explicação para a consagração de "Alma Imoral", com Clarice Niskier, produção pequena e despretensiosa que está em cartaz há dois anos e já foi vista por 100 mil espectadores.

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