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NABUCO VIRTUAL
Por meio de uma simples foto e com truques de animação, o artista Dantas recriou o personagem

O pensamento avançado do político pernambucano Joaquim Nabuco, cujo centenário de morte acontece em janeiro de 2010, ainda ecoa nos dias de hoje. É dele, por exemplo, a incômoda frase "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil", do livro "Minha Formação", musicada por Caetano Veloso no CD "Noites do Norte". A permanência das ideias do abolicionista, diplomata e poeta está retratada na mostra "Joaquim Nabuco: Brasileiro, Cidadão do Mundo", em cartaz até o dia 4 de outubro no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Formado em direito, Nabuco atuou em diversos campos da vida nacional mas ficou mais conhecido como o político obstinado que fez campanha contra a escravidão. "Muita gente desconhece essa multiplicidade, porque o Brasil, infelizmente, não cultiva seus heróis", diz a socióloga Helena Severo, curadora da mostra. "No momento em que a imagem de homens públicos está tão degradada, relembrá-lo é mais que oportuno."

A exposição se abre com um canavial cenográfico e essa alusão a um engenho de açúcar não é gratuita. Foi na casa grande, onde viveu até os 8 anos, que "Quinquim", o apelido de Nabuco na infância, presenciou uma cena fundamental para o seu engajamento na luta abolicionista. Estava sentado na escada da casa quando um escravo se jogou a seus pés implorando para ser comprado por sua madrinha, senhora do engenho, e assim ficar livre dos castigos de seu dono.

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Um dos destaques da mostra é justamente o original da Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel, e a caneta de ouro que ela teria usado para banir a escravidão, tardiamente, do Brasil. Por meio de recursos de ponta, a exposição reconstitui lances fascinantes da trajetória de Nabuco. A partir de uma foto do político, o artista multimídia Marcello Dantas criou uma animação para simular um de seus discursos no Teatro Santa Isabel, no Recife.

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A escrivaninha de madeira que ele teria usado para escrever "Um Estadista do Império", considerado um dos clássicos da historiografia brasileira, enriquece a cenografia. "Nabuco vivia essa dualidade em relação à política e à vida de intelectual. Não conseguia sentar e escrever durante a campanha abolicionista", diz Helena.

Seu afastamento dos púlpitos deu-se após a Proclamação da República, em 1889, e nos próximos dez anos ele se dedicaria à atividade intelectual: teve papel de destaque na fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL).

No segmento relacionado à ABL, o chão aparece coberto de livros. Em destaque, a dedicatória que o patrono da instituição, Machado de Assis, escreveu em um exemplar de "Memorial de Aires".

O retorno de Nabuco à cena política se deu com a carreira diplomática. "Ele foi criticado por trabalhar para os republicanos. Respondeu que dez anos de luto pela monarquia eram suficientes", diz o sociólogo José Almino de Alencar, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, provando que, além de avançado, ele tinha grande senso de humor.


 


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