Um menino de apenas 11 anos mergulha numa aventura intensa ao escapar da tutela familiar, acompanhado de empregados de sua família, braço da decadente aristocracia rural do velho Mississippi. Eles o enredam numa esdrúxula trama envolvendo furto de cavalos, apostas em corridas periféricas e prostitutas de província. Com estes ingredientes, o americano William Faulkner escreveu Os invictos (Arx,
320 págs., R$ 38), sua última obra, vencedora em 1962 do prêmio Pulitzer, o segundo de sua carreira. Lançado no Brasil em 1963 sob o nome de Os desgarrados, pela editora Civilização Brasileira, o romance é agora reeditado com novo título.

A reestréia de Os invictos no mercado nacional é uma excelente notícia, pois trata-se de um Faulkner em seu mais puro estado. Além dos personagens tradicionais do arredio e racista sul dos Estados Unidos – ainda vivendo os preconceitos do início do século XX à revelia da modernidade incipiente –, a veia irônica, crítica, mas ao mesmo tempo lírica, salta aos olhos do leitor, compondo um painel irretocável através de uma narrativa rica. Faulkner não tece apenas a historinha de um grupo exótico de aventureiros, que se mete em encrencas por desobedecer aos mais velhos e a suas regras estabelecidas. Ele descreve, principalmente, a intensa descoberta do mundo pelos olhos de uma criança que faz de forma abrupta sua passagem para o universo adulto. Um universo no qual pululam os golpes baixos, os pequenos truques, as grandes paixões baratas limitadas pelas regras de cabaré. Enfim, uma vida muito distante do cenário luminoso no qual o pequeno Lucius sempre se moveu, mas que o fascina, o assusta e o envolve, sem, contudo, demovê-lo de seu papel de bom moço a caminho da salvação.
 


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