Todo mundo, quando criança, desenhou uma carinha no prato com a comida. Um cabelo de macarrão, uma boca de salsicha e olhos de azeitona eram distração na hora da refeição. Nunca se imaginou, no entanto, que os alimentos se transformariam em uma brincadeira de verdade – e não só das crianças. A moda do cute food (algo como "comida fofa") começou no Japão. No país, as escolas não dão merenda. A garotada leva de casa um obentô, espécie de marmita com a tradicional culinária japonesa. Mas como criança é igual não importa o país as mães perceberam que caprichar na decoração dos pratos incentivava os filhos a não deixar nem um grão de arroz no fundo do obentô. Os adultos também aderiram à proposta e, agora, é comum ver nos refeitórios de empresas funcionários com marmitas nas quais o sushi é uma Hello Kitty, o ovo cozido tem cara de pintinho, ou uma posta de peixe formato de carro. Mais do que comida, a mania é uma expressão artística da cultura local, influenciada por mangás e tudo o que tiver um traço lúdico. A tendência chegou aos Estados Unidos e à Inglaterra, onde adeptos exibem suas criações em blogs.

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INUSITADO Sanduíches da Funky Lunch têm
formas inovadoras

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FOFURA
A Hello Kitty e outros bichinhos são as cute food mais pedidas

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INCENTIVO O chef japonês Ken Kawasumi criou sushis decorados com figuras como pandas, flores e corações

 Além de saudável e apetitoso, ser atraente é a regra no preparo do obentô. Infantilizar a comida, porém, é um pouco demais. "Só fazer refeições assim indica algum tipo de patologia", diz a psicóloga Maria Regina Brecht Albertini, professora na Universidade Mackenzie, em São Paulo. "É como videogame. Claro que um adulto pode jogar, desde que não transforme isso em algo fundamental no cotidiano." Foi o chef japonês Ken Kawasumi quem impulsionou a onda do cute food ao criar sushis decorados e lançar o livro "The Encyclopedia of Sushi Rolls" (A Enciclopédia dos Sushis, inédito no Brasil), no ano passado. Até um rolinho com o rosto do presidente americano Barack Obama ele inventou. Aqui, os obentôs continuam sendo os tradicionais, com preço médio de R$ 10. "Mas os sushis com figuras inusitadas são sucesso nas festas", garante Tamotsu Okamoto, diretor do Instituto Cultural Nipo-Brasileiro, em Campinas, São Paulo.

Na Inglaterra, o webdesigner Mark Northeast fundou a Funky Lunch em maio. A empresa comercializa sanduíches nos mais variados formatos, de girafa a jacaré, com muitos legumes e verduras. Ele planeja fazer caixas como os obentôs para distribuir a comida, além de um livro para que pais aprendam seus truques. A inspiração de Northeast foi seu filho, de 4 anos, que dava trabalho para comer. "Ele passou a aceitar novos alimentos", disse à ISTOÉ. "Percebi que meu filho gostaria de algo que parecesse alegre." A intenção de Northeast é das melhores, mas fica um alerta: "A criança não pode ser só seduzida pela imagem", diz a psicóloga Maria Regina. "Ela precisa aprender a dar valor aos alimentos saudáveis."