i137075.jpg

CULTIVANDO EDIFÍCIOS
Leva pelo menos seis anos para moldar as árvores que servirão de estrutura. À esq., estação de observação (detalhe do interior em vermelho). Abaixo, passarela pronta e projeto de pavilhão de artes de 120 m2. São necessários 15 anos de cultivo para erguer espaços de mais de 100 m2

Foi-se o tempo em que madeira certificada e coletores de água de chuva bastavam para garantir o título de prédio sustentável a uma casa ou edifício. Uma nova técnica de construção que usa árvores vivas como infraestrutura para imóveis de até três andares é a última novidade entre os entusiastas do ecologicamente correto. Conhecida como arboarquitetura, ela foi desenvolvida por um escritório alemão chamado Baubotanik com base nas técnicas de uma prática conhecida pelos jardineiros há oito séculos – a arboescultura. A diferença é que, enquanto a arboescultura modela árvores e arbustos já crescidos para fins estéticos, na arboarquitetura a ideia é cultivar uma árvore desde a sua infância para que ela cresça de maneira a ter um papel estrutural. Ou seja, funcionar como o pilar da obra.

A técnica ainda está sendo aprimorada. A primeira construção de porte a sair do papel foi uma estação para observação de pássaros. Concebida para se misturar à paisagem, ela tem dois andares, abriga até dez observadores e tem sua infraestrutura apoiada em cerca de 96 salgueiros. Enquanto as árvores cresciam – foram seis anos de preparação -, elas foram condicionadas a suportar o peso da estação. Em áreas onde a sustentação de carga seria maior, foram pendurados pesos para que o tronco engrossasse. Podas também ajudaram a concentrar a força e a monitorar o crescimento das árvores, para manter a simetria. "Foi um desafio colocar as plantas para trabalhar juntas por um objetivo que não o de simplesmente crescer", diz Oliver Stroz, um dos sócios do Baubotanik.

Os salgueiros são o alicerce de uma construção que custou R$ 210 mil e é vistoriada anualmente desde 2007, quando ficou pronta, por engenheiros que autorizam seu uso. Antes da estação de observação de pássaros, os arquitetos alemães testaram a técnica com uma passarela elevada, de execução mais simples. A próxima empreitada é um prédio de três andares. No mês passado, eles plantaram as mudas e colocaram os tubos de metal que orientarão o crescimento delas. Além de apoiar estruturas nas plantas, a Baubotanik usa técnicas que fundem chapas de metal e barras de aço com as árvores – que às vezes as rejeitam – para sustentar o piso. E quando as árvores morrem? "Gosto do que é efêmero", explica Stroz. "Muitos prédios são construídos para durar para sempre. Como os nossos estão vivos, um dia eles morrem – e isso é bom."

i137076.jpg