Escutar sinos tocando, sentir-se como se fosse uma explosão de fogos de artifício. O ser humano adora fazer analogias para descrever o orgasmo, ápice da relação sexual. Tanto falatório, porém, pode causar expectativas demais. Se o clímax para você não tem essa pirotecnia toda, relaxe. Segundo os especialistas, cobrar emoções tão intensas ou esperar o espetáculo é exagero. A realidade é que, para grande parte das mulheres, o prazer total na cama ainda é um sonho. No Brasil, 30% da população feminina queixa-se da falta de orgasmo, de acordo com estudo do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. E 34,6% reclama da falta de desejo – entre os homens, essa taxa é bem menor: 12%.

Há algumas razões que explicam o pouco apetite sexual feminino. A primeira é biológica. A mulher tem menos desejo do que o homem porque suas taxas de testosterona, o hormônio relacionado à libido, são mais baixas. A outra causa vem do estilo de vida da mulher atual. O romance fica para trás, em algum lugar entre diversos desafios. “As mulheres estão no trabalho, cuidam dos filhos e ainda têm opções de entretenimento que desviam suas atenções. Sobra pouco tempo para o sexo”, afirmou a ISTOÉ John Bancroft, diretor do Kensey Institute, fundação ligada à Universidade de Indiana (EUA) e especializada no estudo da sexualidade humana. “A mulher deixa a pior hora para fazer sexo. A do cansaço. Cuida de tudo primeiro para depois pensar no assunto”, analisa a médica Nilva Pereira, do Centro de Assistência Integral à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas (SP).

A arquiteta carioca Isabella Leite, 43 anos, sabe do que falam os especialistas. Quando entrou em seu segundo casamento, há 13 anos, foi viver em Londres com o marido e os dois filhos do primeiro casamento, onde dispunha de excelente infra-estrutura doméstica. Três anos depois, voltou ao Rio de Janeiro e montou um escritório em casa. O tempo para a vida pessoal ficou menor e os encontros amorosos se reduziram a uma vez por semana. “O ritmo só muda quando os filhos estão com o ex-marido. Nessas horas namoramos mais”, conta.

Felizmente, a ciência está fazendo sua parte. Recentemente, anunciou-se a criação de uma espécie de poção do amor para mulheres saudáveis. Trata-se de um spray nasal desenvolvido pela empresa americana Palatin Technologies, de New Jersey. A fórmula seria capaz de deixar as mulheres altamente excitadas. O motivo? Uma substância conhecida pela sigla PT-141. É uma proteína (conjunto de aminoácidos) que age numa área do cérebro responsável pelo despertar do desejo. No ano passado, testes em ratas mostraram que as fêmeas intensificaram as suas investidas sexuais. Agora, o spray foi experimentado por mulheres, com resultado promissor. Os cientistas ofereceram a substância a 16 voluntárias, enquanto outras 16 receberam placebo. Todas assistiram a vídeos eróticos e receberam um aparelho para medir a intensidade do fluxo de sangue na vagina. Nas que usaram o PT-141, o fluxo sanguíneo e a excitação foram maiores. A empresa espera comercializar o spray dentro de três anos. Outra companhia de New Jersey, a NexMed, trabalha na criação de um creme para turbinar o sexo feminino. O Femprox é a base de prostaglandina, hormônio já usado contra a impotência. De acordo com a empresa, os estudos mostraram que o creme aumenta o fluxo sanguíneo e a lubrificação na região genital, facilitando o ato.

Há mais uma possível saída para incrementar a vida sexual da
mulher. Trata-se da utilização
de um remédio antidepressivo
à base de bupropiona. No ano passado, o pesquisador americano Robert Segraves apresentou um trabalho com 66 pacientes que revelou que a bupropiona aumentou o desejo de voluntárias que não tinham depressão, mas sofriam
de disfunção de libido. A droga
atua sobre a dopamina, substância cerebral associada ao prazer, mas não reduz a libido como outros medicamentos da mesma classe. Durante o tratamento de 12 semanas,
a frequência de fantasias sexuais cresceu 157%. E a excitação
aumentou 84%. No momento, Segraves conduz outra pesquisa em
três centros americanos. Os especialistas acompanham 80 mulheres
que têm o mesmo problema do estudo anterior: falta de desejo. “Nossa impressão é de que mais um terço das pacientes tem respostas
positivas à droga”, disse Segraves a ISTOÉ.

Enquanto essas pílulas não chegam às farmácias, as mulheres procuram outras saídas. A comerciante Joana (nome fictício), 42 anos, de São Paulo, optou por abrir o jogo quando a vida sexual perdeu qualidade. Casada há mais de duas décadas, ela diz que a cama esfriou porque o marido ficou muito deprimido com a morte do pai. Joana teve de cuidar da saúde dele, que não saía do quarto. A depressão foi superada, mas a relação não melhorou. O sexo escasseou, juntamente com o desejo e o orgasmo. Foi então que Joana alertou o companheiro. “Fui franca. Contei que não sentia nada quando transava”, recorda-se. Depois de algum tempo, a comerciante procurou ajuda especializada. Há um ano, o casal faz terapia. “Nas sessões, discuto o problema e recebo orientações”, diz. Como parte do tratamento, Joana foi a sex shops e comprou lingeries bem sexies. “Estamos fazendo a lição de casa”, brinca.