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NO MUNDO Acima, o primeiro ponto, inaugurado em 1880, em Paris. Abaixo, o interior de uma loja, em Xangai

Hermès se pronuncia "êrmés". A dica não é presunção de quem escreve, tem razão de ser. É que, com a inauguração da primeira loja da grife francesa, prevista para 13 de setembro no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a pronúncia correta se torna urgente. A abertura acontece mais de uma década depois de a Hermès manifestar seu interesse em fincar bandeira em solo brasileiro. Por dez anos, os executivos da marca batalharam na Justiça pelo direito de uso do nome – havia uma empresa homônima no Rio de Janeiro. Também tiveram dificuldades em definir seus representantes. Além do empresário José Auriemo, que finalmente fechou com a grife, Eliana Tranchesi, da multimarcas Daslu, e Tânia Loeb, da grife Loeb, também disputavam o passe.

O espaço é o 335º ponto de venda a ser inaugurado no mundo, possui 170 metros quadrados e toda a pompa Hermès. Isso significa material de primeira importado da Europa e arquitetura e decoração assinadas pelo escritório Rena Dumas, pertencente aos mesmos proprietários da grife. O piso de mármore moleanos veio de Portugal. A mobília, de madeira cerejeira, da França. E as luminárias patenteadas, da Alemanha. Até mesmo a tinta laranja do tapume, que esconde a loja dos olhares curiosos de quem passa pelo shopping, veio da França. A cor faz parte da identidade da grife desde a Segunda Guerra Mundial. A linguagem visual das lojas mescla informações contemporâneas, como linhas retas e aço escovado, e clássicas.

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A Hermès foi fundada em 1837, em Paris, por Thierry Hermès, mestre na arte da selaria. Na época, ele fabricava artigos de couro para carruagens da elite parisiense. Com o advento do automóvel, a marca se reinventou. A técnica do pesponto no couro foi adaptada a linhas de bagagens, bolsas e carteiras. Atualmente dirigida pela sexta geração, a grife possui 14 famílias de produtos que somam milhares de itens. Objetos de todas elas estarão à venda em São Paulo, incluindo selas para montaria, bolsas Kelly e Birkin – até mesmo nas versões pele de crocodilo e avestruz – e seus coloridos carrés.

Quem passa pelo tapume laranja não vê nem ouve nada. A um mês da estreia, a obra já está terminada e a loja montada. A tarefa agora é finalizar o treinamento dos vendedores. Daniela Morganti Brandão, diretora da loja no Brasil, é a encarregada da missão. Ao ser contratada pela grife, ela passou uma temporada na França, onde conheceu escritórios, ateliês e lojas da marca em diferentes cidades. Agora, cabe a ela passar adiante tudo que aprendeu em sua imersão pelo universo Hermès. Filha de uma das mulheres mais elegantes da sociedade paulistana nas décadas de 70 e 80, Regina Morganti, morta em 1996, Daniela herdou um acervo de roupas e acessórios Hermès. São bolsas, cintos, carrés e xales, que Regina comprava na butique da grife localizada ao pé da pista de esqui de Gstaad, na Suíça.

Não há grife capaz de exercer tanto fascínio quanto a Hermès. Em tempos de fabricação de produtos de luxo em larga escala, ela se destaca por manter sua produção 100% manual. Artigos de couro e seda são fabricados por artesãos vitalícios. Cada bolsa é produzida por um único expert, num processo que dura de 24 a 48 horas. Assim como a qualidade da mão de obra, a melhor matéria-prima é perseguida à exaustão. A empresa mantém uma criação de crocodilo para produção de couro. E, para garantir a integridade da pele do animal, deixa os bichos separados, para não brigarem. Tamanho cuidado reflete no preço (leia quadro) e na escassez da peça. Uma Birkin croco é quase tão rara quanto uma joia de rubi – tem cliente que espera até um ano por uma.

 

 

 

Hermès se pronuncia "êrmés". A dica não é presunção de quem escreve, tem razão de ser. É que, com a inauguração da primeira loja da grife francesa, prevista para 13 de setembro no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a pronúncia correta se torna urgente. A abertura acontece mais de uma década depois de a Hermès manifestar seu interesse em fincar bandeira em solo brasileiro. Por dez anos, os executivos da marca batalharam na Justiça pelo direito de uso do nome – havia uma empresa homônima no Rio de Janeiro. Também tiveram dificuldades em definir seus representantes. Além do empresário José Auriemo, que finalmente fechou com a grife, Eliana Tranchesi, da multimarcas Daslu, e Tânia Loeb, da grife Loeb, também disputavam o passe.

O espaço é o 335º ponto de venda a ser inaugurado no mundo, possui 170 metros quadrados e toda a pompa Hermès. Isso significa material de primeira importado da Europa e arquitetura e decoração assinadas pelo escritório Rena Dumas, pertencente aos mesmos proprietários da grife. O piso de mármore moleanos veio de Portugal. A mobília, de madeira cerejeira, da França. E as luminárias patenteadas, da Alemanha. Até mesmo a tinta laranja do tapume, que esconde a loja dos olhares curiosos de quem passa pelo shopping, veio da França. A cor faz parte da identidade da grife desde a Segunda Guerra Mundial. A linguagem visual das lojas mescla informações contemporâneas, como linhas retas e aço escovado, e clássicas.

A Hermès foi fundada em 1837, em Paris, por Thierry Hermès, mestre na arte da selaria. Na época, ele fabricava artigos de couro para carruagens da elite parisiense. Com o advento do automóvel, a marca se reinventou. A técnica do pesponto no couro foi adaptada a linhas de bagagens, bolsas e carteiras. Atualmente dirigida pela sexta geração, a grife possui 14 famílias de produtos que somam milhares de itens. Objetos de todas elas estarão à venda em São Paulo, incluindo selas para montaria, bolsas Kelly e Birkin – até mesmo nas versões pele de crocodilo e avestruz – e seus coloridos carrés.

Quem passa pelo tapume laranja não vê nem ouve nada. A um mês da estreia, a obra já está terminada e a loja montada. A tarefa agora é finalizar o treinamento dos vendedores. Daniela Morganti Brandão, diretora da loja no Brasil, é a encarregada da missão. Ao ser contratada pela grife, ela passou uma temporada na França, onde conheceu escritórios, ateliês e lojas da marca em diferentes cidades. Agora, cabe a ela passar adiante tudo que aprendeu em sua imersão pelo universo Hermès. Filha de uma das mulheres mais elegantes da sociedade paulistana nas décadas de 70 e 80, Regina Morganti, morta em 1996, Daniela herdou um acervo de roupas e acessórios Hermès. São bolsas, cintos, carrés e xales, que Regina comprava na butique da grife localizada ao pé da pista de esqui de Gstaad, na Suíça.

Não há grife capaz de exercer tanto fascínio quanto a Hermès. Em tempos de fabricação de produtos de luxo em larga escala, ela se destaca por manter sua produção 100% manual. Artigos de couro e seda são fabricados por artesãos vitalícios. Cada bolsa é produzida por um único expert, num processo que dura de 24 a 48 horas. Assim como a qualidade da mão de obra, a melhor matéria-prima é perseguida à exaustão. A empresa mantém uma criação de crocodilo para produção de couro. E, para garantir a integridade da pele do animal, deixa os bichos separados, para não brigarem. Tamanho cuidado reflete no preço (leia quadro) e na escassez da peça. Uma Birkin croco é quase tão rara quanto uma joia de rubi – tem cliente que espera até um ano por uma.

As bolsas Hermès, especialmente a Birkin, são tão desejadas que inspiraram o americano Michael Tonello a investir em sua venda e revenda. Sempre muito bem-vestido, ele percorria lojas, empilhava produtos sobre o balcão e no final pedia uma Birkin. Em dois anos, o malandro comprou e revendeu – bastante inflacionadas – 130 unidades. Em seu livro "Bringing Home the Birkin" (Levando a Birkin para Casa), diz que as bolsas não são tão exclusivas e que ficam escondidas nas lojas à espera de clientes que tenham o perfil da marca: uma elegância discreta e muito dinheiro no bolso. "A inauguração da Hermès é um presente para os brasileiros", diz Carlos Ferreirinha, presidente da MCF Consultoria, especializada em luxo. "Não há outra grife tão impregnada de história, cultura e símbolos." A inauguração da loja, em tempos de ressaca econômica mundial, está longe de ser uma questão relevante. A Hermès tem crescido em plena crise: 5% no primeiro trimestre deste ano e 10% no ano passado.

                        ÍCONES DA GRIFE FRANCESA

 

 

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1- Selaria

Quando foi fundada, em 1837, a Hermès fazia apenas selas. Só ampliou sua cartela com o surgimento do automóvel. Entre as selas, há a "Brasilia", inspirada no cavaleiro Rodrigo Pessoa

2- Bolsa Kelly

Primeira bolsa da grife, lançada em 1935. Só ficou famosa duas décadas depois, quando a princesa de Mônaco Grace Kelly foi fotografada com ela. Custa a partir de 3,5 mil euros (R$ 9 mil) – a mais cara vale 58 mil euros (R$ 152 mil)

3- Bolsa Birkin

Lançada em 1984, foi inspirada na cantora inglesa Jane Birkin. É a queridinha entre as celebridades, como a inglesa Victoria Beckham, que possui cerca de 100. A mais desejada das Birkin é feita de couro de crocodilo, de cativeiro, que chega a custar 35 mil euros (R$ 91 mil)

4- Carrés

Produzidos desde 1937 por artesãos vitalícios, são lenços de seda quadrados no tamanho de 90 cm x 90 cm. Estampados, coloridos e assinados por artistas convidados, os carrés são numerados e custam a partir de 275 euros (R$ 720)