img.jpg

Ver surfistas brasileiros demonstrando talento acima da média no cenário mundial não é exatamente uma novidade. Desde a década de 70, para desespero dos americanos, havaianos e australianos mais bairristas, uma lista enorme de nomes já dava trabalho nas ondas ao redor do mundo. Correndo o enorme risco de deixar muita gente boa de fora, figuras como Paulo Tendas, Picuruta Salazar, Ricardo Bocão, Pepê Lopes, Taiu Bueno, Ianzinho, André Pitzalis, Fred D’Orey, mais recentemente Fabio Gouveia, Renan Rocha, Teco Padaratz, Victor Ribas e os mestres das ondas grandes como Jorge Pacelli, Carlos Burle, Silvio Mancuzzi, Romeu Bruno, Everaldo Pato, Rodrigo Resende e Eraldo Gueiros. Estes e dezenas de outros atletas, que batalhavam um lugar no cenário mundial do esporte em épocas em que havia pouco ou nenhum apoio material e técnico, deixaram desde logo, um lugar na fila da frente reservado para os brasileiros. Mas, de algum tempo para cá, um nome natural da cidade de São Sebastião, no litoral norte paulista, vem escrevendo um capítulo totalmente novo na história do esporte brasileiro. O garoto da foto tem apenas 17 anos, mas já pertence ao grupo de felizardos de uma geração que, ao contrário da maioria dos nomes citados acima, encontrou uma estrada asfaltada e bem sinalizada para trilhar suas carreiras. A começar dos pais. Se no passado, era preciso convencer e até brigar com pais e mães contrariados e preocupados com as opções de seus filhos por um esporte com fama duvidosa e que não parecia oferecer um futuro razoável para seus praticantes, agora, muitos dos atletas são filhos de atletas do mesmo ramo e encontram em seus pais, mais do que simples incentivadores, mas técnicos, empresários e conselheiros preparados. Medina tem na mãe, Simone, e no padrasto , que ele chama e considera seu pai, Charles, a base de uma arquitetura emocional e material que o fizeram desde os 8 ou 9 anos agarrar com seriedade e dedicação a carreira de surfista profissional. Essa estrutura compreende o patrocínio de uma das maiores marcas de roupas e acessórios para surfe, garantido por contrato até 2016, acesso a profissionais de medicina esportiva, nutrição e outras ciências, viagens/estágios em algumas das melhores e mais desafiadoras ondas do mundo, entre outras regalias que não constavam nem nos melhores sonhos de seus colegas de profissão de outros tempos.

Resultado direto: há poucos dias, Gabriel Medina cravou para o Brasil algumas marcas inéditas. Tornou-se o mais jovem competidor brasileiro na elite do surfe profissional na história do circuito mundial e venceu nada menos do que a segunda etapa do campeonato mundial do esporte da qual participou na vida. No caminho, deixou para trás nomes consagrados como Taylor Knox, Julian Wilson e especialmente o dez vezes campeão mundial de surfe profissional e considerado o mais completo atleta desse esporte em todos os tempos, Kelly Slater. Mal comparando, é mais ou menos como se um garoto brasileiro de 17 anos chegasse ao circuito mundial de Fórmula 1 e ganhasse já no segundo GP de sua vida, chegando à frente de Senna, Prost e Schumacher. Ah, com uma diferença importante
no caso de Medina: a pista anda.

Ao lado de nomes como Miguel Pupo e Filipe Toledo (não por caso, filhos dos campeões Wagner Pupo e Ricardo Toledo), Adriano Mineirinho de Souza (que acaba de ganhar a etapa seguinte do mundial em Portugal), Jadson André, Raoni Monteiro, Alejo Muniz, Heitor Alves, entre outros, Medina comanda um movimento que pode pela primeira vez trazer o título máximo desse esporte ao País. Já conseguimos fazer campeões mundiais em categorias/modalidades importantes dos esportes das ondas como o longboard, o surfe amador, o bodyboard e o surfe em ondas grandes, mas agora há de fato uma perspectiva concreta de trazermos para Maresias (onde mora Medina), ou para alguma outra praia brasileira, o mais cobiçado título do surfe profissional competitivo do planeta. 

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente