Poeta, romancista, tradutor, pintor, jornalista, teatrólogo, editor, crítico de arte e, mais do que tudo, um grande diretor de cinema, o italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975), criador de obras-primas como Teorema e Mamma Roma, desafia classificações. Ciente de sua importância, a professora de literatura da Unicamp Maria Betânia Amoroso arrisca o termo subversivo para definir um dos traços mais marcantes do artista, na apresentação de Pier Paolo Pasolini (Cosac & Naify, 120 págs., R$ 15). Tentativa que, bem ao estilo do retratado, termina logo em ressalva. “Porque o mundo mudou radicalmente, porque as palavras envelhecem, porque as pessoas têm memória curta, o significado de subversivo, de revolucionário, nos anos 60 e 70 do século passado, é hoje em dia um rótulo comportamental qualquer.”

Numa época pouco afeita a pensamentos radicais, é realmente difícil abordar o Pasolini que em 1968 escreveu o poema O PCI aos jovens!, dizendo-se simpático aos policiais “proletários”, agredidos em passeatas pelos estudantes romanos, filhos da burguesia. A saída de Maria Betânia, então, foi entremear a riquíssima produção, as escolhas existenciais, as idéias, dúvidas, divagações e polêmicas de Pasolini numa pulsão crítica e criativa, dando origem a um livro de leitura rápida e fiel até a medula à complexidade das preocupações pasolinianas. Da decisão de escrever no dialeto friulano materno nos anos do fascismo até a condenação visceral do empobrecimento do homem gerado pela cultura de massas – diagnosticado por ele como verdadeira mutação antropológica –, o que se tem é um retrato do artista como voz ativa e solitária.
 


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