100th window é título de um livro cult de Charles Jennings sobre segurança na internet. Robert Del Naja, ou simplesmente 3D, produtor do grupo inglês Massive Attack, achou que a idéia poderia ser transposta para o campo afetivo e assim batizou seu quarto álbum que, em geral, fala de como as pessoas tentam esconder seus sentimentos, mas, sem querer, dão brecha para os outros os descobrirem. Dito assim, mais parece assunto de algum disco de Alanis Morissette. Mas não. Os sentimentos aqui tratados são vividos através da janela da melhor música eletrônica, aquela em que a vibração tirada do som das máquinas não vem do ecstasy, e sim do êxtase solidário com quem o produz. Neste patamar das experimentações sonoras envolvendo teclados, samples e pro tools – computadores que dão tratamento às músicas –, Massive Attack só não se equipara à sensibilidade e ao bom humor do americano Moby. Portanto, hoje em dia, sinônimo de música eletrônica criativa, inteligente e de qualidade resume-se a Moby e Massive Attack. Evidentemente seguidos de alguns outros também bons, mas sem as características de realeza que os dois carregam no gênero.

Há quatro anos sem lançar um disco, o Massive Attack, que atualmente se restringe somente a 3D – Grant “Daddy Gee” Marshal teve um filho
e está em fase sabática até a turnê do grupo –, vem reforçar suas sonoras paisagens psicodélicas colhidas na música oriental, no soundsystem jamaicano e no próprio som eletrônico e suas diversas correntes. Com a diferença de que 3D e seus colaboradores não se exilam dos instrumentos tradicionais, normalmente alienígenas a esta linha musical. A maior prova é o denso CD Mezzanine, de 1998, no qual um mar de guitarras entra em simbiose com toda a família de teclados. 100th é um trabalho mais sombrio, cheio de impressionantes camadas sonoras, algumas aterrorizantes, mas prontamente dissipadas por invenções melodiosas, totalmente inovadoras. Butterfly caught e Small time shot away são dois dos melhores exemplos.

Acostumado a convidar cantoras, como Tracey Thorn, do Everything
But The Girl, que cantou no disco Protection, de 1994, e Elizabeth
Fraser, do extinto Cocteau Twins, que participou de Mezzanine, desta vez 3D quis ter a braveza com suavidade da irlandesa Sinead O’Connor em três canções. Uma delas é A prayer for England. 100th é quase
um álbum conceitual, com as músicas ligando-se por diferentes pontes, da faixa de abertura, Future proof – na qual se ouvem ecos da antiga Durutti Column, do inglês Vini Reilly –, à apocalíptica Antistar. Um disco, enfim, para desbancar qualquer opinião de que música eletrônica é apenas um eterno batuque.